Análise da práxis de educadores egressos da Licenciatura em Educação do Campo da Unifesspa : potencialidades e desafios

Abstract

Este estudo tem como tema a formação de educadores do campo. Objetiva analisar a práxis de egressos da Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará ‒ LEdoC/UNIFESSPA, a fim de compreender sua atuação profissional e vivências, considerando potencialidades e desafios. Orientou-se pelo método do materialismo histórico-dialético, mobilizando a produção teórica sobre práxis de Sánchez Vázquez (1977), Kosik (1976), Gramsci (2001, 2007), Freire (1987), de autores que estudam a atualidade da educação no contexto do avanço das políticas neoliberais, tais como L. C. Freitas (2012, 2014, 2018), Mancebo (2020), Evangelista et al. (2019), Kuenzer (2024), Saviani (2009), H. C. L. Freitas (2018), Curado Silva (2022), além da produção teórica concernente à Educação do Campo, como de Caldart (2008), Molina (2012, 2017), Molina e Pereira (2021a, 2021b ), Arroyo (2007, 2012, 2013) e outros. A pesquisa de campo foi realizada no sudeste do Pará, no período de julho de 2023 a março de 2024. Recorremos ao uso de observação participante em eventos com egressos, realização de entrevistas com roteiro semiestruturado e análise de documentos. Os resultados mostram que os egressos da Licenciatura em Educação do Campo da UNIFESSPA, em sua maioria, são expressão da reprodução do campesinato na região, que tem produzido ricas iniciativas de formação incidindo nas políticas públicas, dentre as quais a formação de educadores do campo. A análise da práxis dos educadores egressos da LEdoC/UNIFESSPA está condicionada por múltiplas determinações: as disputas em torno da terra e território dos povos do campo, das águas e das florestas em face do avanço do agronegócio, que se dá de forma objetiva e subjetiva; institucionalização do trabalho precário, que se completa com a formação precária dos trabalhadores através do alinhamento de políticas de Estado aos interesses neoliberais, materializando parcerias público-privadas e fortalecendo a Educação à Distância na formação de professores e na educação básica, com destaque no Ensino Médio. Dialeticamente a prática social desses educadores constitui uma diversidade de práxis. A maioria se encontra inserida como trabalhadores da educação formal e com vínculo em processos educativos que extrapolam a escola, destacando-se: inserção orgânica na organização política dos trabalhadores; na produção de resistências pelo direito à terra e território; na construção da educação escolar no e do campo; na participação em processos de formação continuada na universidade e além dela; na reivindicação por políticas públicas que reconheçam a existência e identidade dos povos, confrontando concepções hegemônicas de sociedade e de educação. Reivindicam o direito à regulamentação da especificidade de sua formação e inserção/atuação profissional em seus territórios. As tensões diante da não inserção do perfil de egresso da Licenciatura em Educação do Campo na legislação que regulamenta o exercício da docência nas redes de ensino e não inclusão desse perfil de formação nos editais de concurso público são manifestações da presença e hegemonia de outro projeto em curso para a oferta da educação aos trabalhadores, com destaque para o Ensino Médio e a formação de seus professores. Esse outro projeto de formação da juventude está alinhado a acordos com organizações multilaterais e se efetiva, dentre outras formas, por meio da modalidade da Educação à Distância. A defesa da inserção profissional dos educadores do campo nos territórios com oferta presencial das atividades pedagógicas, construindo propostas pedagógicas e curriculares vinculadas à vida e cultura dos povos apresenta-se como resistência ao projeto hegemônico de educação da juventude e da classe trabalhadora. A autoorganização dos educadores egressos das Licenciaturas em Educação do Campo constitui-se uma práxis que retoma pautas da origem da concepção da Educação do Campo (campo ‒ políticas públicas ‒ educação), de modo que gesta um potencial revolucionário que se insere no interior das produções da Educação do Campo em movimento. Definir como fortalecê-las na diversidade dos territórios é uma tarefa sobre a qual vale a pena nos debruçarmos.