Avaliação do desenvolvimento infantil de filhos de mães com infecção por SARS-CoV-2 durante a gestação

Abstract

Fundamentos: A infecção materna pelo SARS-CoV-2 não apenas expõe o feto e o neonato aos efeitos diretos do vírus, mas também às possíveis complicações associadas à resposta inflamatória materna. Ainda há lacunas significativas no entendimento dos impactos da exposição intrauterina ao SARS-CoV-2, especialmente no que diz respeito ao neurodesenvolvimento das crianças. Compreender esses aspectos é crucial para orientar políticas de saúde pública e intervenções clínicas que possam mitigar potenciais danos ao desenvolvimento infantil. Metodologia: Crianças de mães que tiveram infecção por SARS-CoV-2 durante a gravidez (confirmada por RT-PCR de swabs nasofaríngeos) foram avaliadas em consultas ambulatoriais prospectivas e analíticas realizadas aos 6 e 12 meses após o parto. O desenvolvimento foi avaliado com as Escalas Bayley-III usando um limiar de corte definido como >85 no escore de índice. Diferenças entre os grupos foram avaliadas por análise de variância usando o teste post hoc de Bonferroni. Resultados: Duzentos e sessenta e sete crianças foram avaliadas, a maioria nascida a termo e com peso ao nascimento adequado para a idade gestacional. Nesse cenário, atrasos no desenvolvimento foram observados em 26% das crianças em pelo menos um domínio. O domínio da linguagem foi particularmente afetado, com prejuízos observados em crianças expostas ao SARS-CoV-2 mais próximas do momento do parto, assim como aquelas que tiveram sintomas graves durante a gravidez devido à exposição ao vírus. Filhos de mães com menor grau de instrução - mães que não possuíam diploma universitário - também apresentaram pior desempenho na avaliação com escala de desenvolvimento neuropsicomotor. Esses achados foram estatisticamente significativos (p < 0,05). Conclusões: Crianças nascidas de mulheres com infecção por SARS-CoV-2 durante o período da pandemia de COVID-19, avaliadas aos 6 e 12 meses, apresentaram atraso na linguagem. Filhos de mulheres com COVID-19 grave apresentaram escores mais baixos nas escalas de avaliação referentes ao domínio da linguagem. Crianças nascidas de mulheres sem ensino superior também apresentaram pontuação abaixo da média no domínio linguagem da escala Bayley-III.