Os atravessamentos afetivos da literatura na vida do professor leitor

Abstract

A formação do leitor literário tem se tornado cada vez mais uma exceção no contexto educacional brasileiro. Pesquisas, como a Retratos da Leitura no Brasil (Failla, 2020), apontam que quando essa formação acontece, ela está diretamente associada à centralidade da figura do professor nesse processo. Interessa-nos, portanto, neste trabalho, nos voltar ao engendramento dessa possibilidade de formação, investigando o perfil dessa figura que consegue, a despeito de todas as mazelas que o sistema educacional lhe impõe, apresentar uma vida de leitor contagiante em sala de aula. Desse modo, pretendemos analisar, por meio de uma reflexão crítica do meu próprio percurso formativo, quais atravessamentos afetivos estão em jogo quando se trata de consolidar uma identidade docente leitora. Além disso, veremos como a consolidação dessa identidade permite ao professor adotar uma indistinção, extremamente cara à formação de leitores, entre o perfil docente e a vida de leitor que apresenta em sala de aula. Vale ressaltar ainda que essa indistinção também se faz presente na metodologia deste trabalho, quando procuramos associar o texto literário às vozes teóricas que o compõem, destacando a importância da literatura não só como fonte de fruição, mas como elemento essencial na construção do conhecimento. Assim, a questão de como relegar protagonismo ao texto literário em nossas vidas é tanto investigada como um percurso docente afetuosamente construído, como colocada em prática no próprio corpus da pesquisa.