Uso da avaliação do ciclo de vida e técnicas de análise de incertezas em projetos rodoviários brasileiros : estudo de caso com diferentes fontes de dados ambientais do cimento portland

Abstract

O setor de transportes impulsiona o crescimento socioeconômico de muitos países, mas também gera consideráveis impactos ambientais. No Brasil, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pelas rodovias federais brasileiras, carece de ferramentas para avaliar e mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de seus projetos, o que pode ser alcançado por meio da técnica de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Além disso, a escassez de dados ambientais de insumos-chave, como o cimento Portland, leva à utilização de bases de dados estrangeiras nos estudos de ACV realizados no Brasil, gerando incertezas nos resultados. O objetivo geral desta pesquisa é estabelecer uma metodologia que combine os conceitos de ACV, técnicas de análise de incertezas e as normas do DNIT para avaliar as emissões de GEE dos projetos das rodovias federais brasileiras, considerando as fases de produção de materiais, transporte e obra. O modelo desenvolvido na pesquisa foi aplicado em um projeto rodoviário do DNIT com pavimento rígido de concreto, avaliando a influência do uso de dados ambientais do cimento Portland local em comparação com seu equivalente produzido nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa sobre os resultados determinísticos e probabilísticos de emissões de GEE. Os resultados determinísticos indicam que a fase de produção de materiais é a mais impactante nas emissões globais do projeto, contribuindo com mais de 78% em todos os cenários. A fase de transporte representa mais de 16% das emissões globais. As disciplinas de pavimento novo e restaurado são as principais em termos de emissões unitárias, seguidas pela terraplanagem. A utilização de dados ambientais de cimentos estrangeiros resultou em aumentos de 7,31% (Europa) e 12,91% (EUA) nas emissões globais do projeto, com as diferenças mais significativas nas disciplinas de pavimentação. A análise probabilística mostrou que o uso do cimento brasileiro levou às menores emissões globais e incertezas entre os resultados dos três cenários. Entretanto, a abordagem probabilística dos cenários com o uso dos cimentos europeu e americano revelou que os parâmetros qualitativos dos dados ambientais de seus cimentos podem levar a resultados de emissões globais equivalentes, dependendo da faixa de probabilidade considerada na análise. A abordagem probabilística revelou ainda que o cimento Portland desempenha um papel crítico nos resultados do projeto integral e individualmente na maioria de suas disciplinas, mas essa criticidade pode ser alterada em função das propriedades qualitativas de seu dado ambiental. Em conclusão, a pesquisa oferece uma alternativa para estimar as emissões de GEE dos projetos das rodovias federais brasileiras, avaliando os efeitos da variação da origem dos dados ambientais de insumos-chave nos resultados, além de propor novas pesquisas para o avanço do tema no Brasil.