Reúso de água residuária da bovinocultura no cultivo de Cynodon spp. cv.Tifton 85

Abstract

A bovinocultura de leite gera água residuária (ARB) proveniente da limpeza de instalações e equipamentos de ordenha, e cuja composição impede o seu lançamento, sem o devido tratamento, em corpos receptores. O seu reúso é uma alternativa de disposição que aporta nutrientes ao solo, para o desenvolvimento vegetal, e reduz a necessidade de captação de águas superficiais para a irrigação. Porém, requer uma avaliação das propriedades do solo e da resposta da planta devido à carga de nutrientes aplicada e da contaminação por microrganismos patogênicos. O objetivo com este trabalho foi avaliar o reúso com ARB sobre os atributos químicos de um Latossolo Vermelho-Amarelo, produção de fitomassa, composição bromatológica e quantificação de coliformes totais (CT) e E. coli no Tifton 85, em condições de campo e cultivo em vasos. O Capítulo I apresenta o experimento de reúso com ARB tratada em lagoas de estabilização, aplicada por aspersão, durante um ciclo de rebrota do Tifton 85 (29/05/20 a 12/09/20), em Gameleira de Goiás/GO. O estudo envolveu a irrigação com ARB e/ou Água de córrego (Ac), e a adubação nitrogenada (0 e 45 kg N ha-1 ), num delineamento experimental fatorial em blocos casualizados. Aos 106 dias após a rebrota foram determinados os atributos morfológicos e bromatológicos da forrageira. As propriedades químicas do solo foram determinadas para 4 camadas do perfil, entre 0,0 e 0,60 m de profundidade. O Capítulo II apresenta o experimento de reúso com ARB submetida ao tratamento preliminar, aplicada por aspersão no Tifton 85, cultivado em vasos, dispostos em ambiente aberto, em Planaltina/DF. O estudo envolveu a irrigação com ARB e/ou Água de poço (Ap), num delineamento experimental em faixas. O turno de rega foi de 3 dias ao longo de 30 dias e, então, a irrigação por aspersão foi interrompida para a determinação da persistência microbiológica na parte aérea da planta. Nos 0, 2, 4, 6, 10 e 12 DAI (dias após a irrigação) (27/08/21 a 08/09/21), amostrouse a parte aérea, e ajustou-se o modelo de decaimento de primeira ordem aos dados de CT e E. coli. No 12º DAI foi determinada a produtividade da forrageira. O reúso da ARB afeta direta e positivamente a produtividade (de 2,50 para 5,12 t ha-1 ) e qualidade bromatológica da forrageira (PB de 12,35% para 14,58%) comparado com a Ac. O reúso com ARB mantém a MOS, entretanto, fornece potássio e sódio em quantidades superiores à capacidade de absorção do Tifton 85 durante a rebrota no inverno, resultando no seu acúmulo até os 0,60 m de profundidade. A contaminação da parte aérea do Tifton 85 e as taxas de decaimento da E. coli foram semelhantes entre as simulações de reúso. O modelo de decaimento mostrou uma mortalidade aparente média da E. coli atingida ao partir dos 2,55 DAI. O reúso da ARB no inverno pode ser praticado desde que monitorada a lixiviação de K e Na do solo. Em relação ao risco de contaminação microbiológica das vacas, o pastejo deve ser evitado por pelo menos 3 dias após a irrigação com ARB.