Análise dos egressos dos cursos de graduação da ESCS que ingressaram no sistema de cotas e ampla concorrência

Abstract

Objetivo: Analisar e comparar o desempenho de profissionais egressos da ESCS que se matricularam por meio dos sistemas de ampla concorrência e de cotas sociais adotados na Escola Superior de Ciências da Saúde, uma escola superior pública de medicina, localizada no Distrito Federal, no Brasil, por meio da avaliação do perfil de seus egressos. Materiais e Métodos: Estudo de corte retrospectivo, incluindo estudantes admitidos nos cursos de graduação em medicina e enfermagem da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), Distrito Federal, Brasil, entre 2005 e 2012, e acompanhados até maio de 2020. Na primeira fase, a coleta de dados foi realizada por meio da análise de documentos da ESCS: sistema de gestão acadêmica e órgãos governamentais brasileiros. Na segunda fase, um questionário com 12 perguntas foi enviado aos ex-alunos do curso de medicina. O critério do sistema de cotas sociais foi a frequência à escola pública em todos os níveis de ensino fundamental e médio. Resultados: Foram incluídos 707 estudantes do curso de graduação em medicina e 448 estudantes do curso de enfermagem. Entre os egressos do curso de graduação em medicina, 204 (28,9%) eram oriundos do sistema de cotas e 503 (78,5%) do sistema de ampla concorrência. O local de residência dos alunos cotistas apresentou menor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (p < 0,001) e renda per capita (p < 0,001) quando comparado aos de ampla concorrência. Estudantes de ampla concorrência foram associados a maior evasão do curso de medicina (OR: 50,552, CI 95%: 12,438- 205,453, p < 0,001). Não houve diferenças significativas entre os alunos de ampla concorrência e cotistas que frequentavam os programas de residência médica (OR: 1,780, CI 95%: 0,957-3,309, p = 0,069). Dos 308 (43,6%) egressos que responderam à pesquisa, observou-se que os alunos de ampla concorrência tinham mais familiares na área da saúde que os cotistas (p < 0,001). Nas respostas obtidas pelo formulário on-line, não foram observadas diferenças significativas em relação à renda mensal, satisfação no trabalho, empregabilidade ou atividades de gestão. Quanto aos estudantes do curso de graduação em enfermagem, percebe-se que, dos 448 estudantes incluídos no estudo, 178 (39,7%) eram do sistema de cotas e 270 (60,3%) do de ampla concorrência. Os alunos oriundos de políticas de ações afirmativas eram mais velhos no momento do ingresso no curso de enfermagem (p < 0,001) e demoraram mais tempo para ingressar na graduação em enfermagem (p < 0,001), após conclusão do ensino médio. Não houve diferenças significativas nas taxas de evasão e de anos para conclusão do curso de enfermagem. Na segunda fase, 108 egressos responderam à pesquisa on-line. Não foram encontradas diferenças significativas quanto à participação em programas de iniciação científica, cursos de extensão universitária, programas de residência, mestrado e doutorado. Também não houve diferenças significativas de renda mensal, atividade de docência, ingresso no serviço público por meio de concurso, participação em atividades de gestão em saúde, seja no setor privado ou no público, e grau de satisfação no trabalho. Conclusão: A ação afirmativa visa beneficiar estudantes em um contexto socioeconômico desfavorecido. No curso de medicina, os egressos de ampla concorrência tiveram uma taxa de evasão maior que os de cotas sociais. No curso de enfermagem, os resultados revelaram que a ação afirmativa é uma política que contribui para a redução das desigualdades, ao garantir a formação de profissionais de enfermagem com qualificação profissional semelhante, seja para aqueles formados com o benefício das ações afirmativas quanto para os egressos do sistema de ampla concorrência.