Palimpsestos de Cagliostro : tramas literárias e fílmicas de uma personagem de Alexandre Dumas

Abstract

Algumas personagens históricas tornam-se tão fascinantes a ponto de passarem a circular no campo da lenda e do mito. Como figuras simbólicas, são recuperadas pela literatura, pelo cinema, pelas artes em geral e, a cada nova representação, terão certas convenções evidenciadas. Na sociedade moderna, tornam-se entes midiáticos, sinônimos de objetos de consumo de massa. Este é o caso de Cagliostro, personagem que viveu e ganhou fama no século XVIII. Para compreender a ressonância dessa personagem na cultura, desde aquele século até hoje, foi necessário investigar arquivos históricos, contendo discursos a seu respeito. Essa pesquisa, pautada por uma visão crítica sobre a instância legitimadora dos arquivos, não teve por intuito conhecer a verdadeira personalidade de Cagliostro, mas entender como certas máscaras viajam pela história, levando a transformação de um ente real em ser ficcional. Concomitante a isso, foi necessário conhecer como essa personagem foi recuperada pela literatura, tendo se tornado, entre 1846 a 1855, um super-herói de massa do romance-folhetim, a partir da publicação do ciclo romanesco, que reconta os episódios da Revolução Francesa, Mémoires d’um médecin, de Alexandre Dumas. Comprendeu-se que a personagem elaborada por Dumas, a partir de uma série de convenções pré-estabelecidas nos arquivos, em outras obras literárias, e com o engenho narrativo particular de um dos criadores da técnica folhetinesca, tornou-se midiatizada no cinema por meio da transficcionalidade. Concluiu-se, enfim, que essa figura de ficção sendo constantemente retomada nos arquivos, na literatura, nas artes, passou a habitar definitivamente no imaginário do público.