Estratégia de enfrentamento à ocorrência da doença de Chagas relacionada a ingestão de açaí na região amazônica

Abstract

A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, tem apresentado nas últimas décadas uma significativa mudança em seu padrão epidemiológico de transmissão, se antes a via vetorial era a principal forma de transmissão, em especial na região centro-oeste do Brasil, hoje nota-se que incidência da doença é mais frequentemente relacionada a sua via oral de transmissão, e em especial relacionada ao consumo de açaí na região amazônica. Isso reflete a intersecção entre práticas culturais e possíveis riscos à saúde, trazendo à tona novas preocupações quanto à doença, suas complexidades e a necessidade de revisar as atuais estratégias de prevenção e controle da doença de Chagas. Assim, o estudo teve por objetivo analisar as estratégias e regulamentações que visam a prevenção e controle da doença de Chagas na região amazônica e sua relação com consumo de açaí bem como da complexa cadeia de produção do fruto. A pesquisa foi realizada em duas etapas: A primeira foi uma revisão narrativa, que subsidiou a seguinte etapa de construção de um Modelo Lógico para o programa denominado “Açaí Bom Para Todos na Amazônia”. A revisão narrativa consolidou a problemática central da pesquisa, corroborando com as evidencias da crescente incidência da transmissão oral da doença associada ao consumo de açaí e permitindo a identificação de fatores críticos, como a manipulação inadequada do açaí e a falta de práticas higiênico-sanitárias, que são reforçadas pela urgente necessidade de fiscalização sanitária contundente e constante e além de campanhas educativas. A compreensão das interações entre fatores epidemiológicos e sociais possibilitou a definição clara de objetivos, públicoalvo e orientaçao da ações propostas para o Modelo Lógico, identificado que apesar da existência de inúmeras regulamentações e políticas de saúde pública vigentes, a transmissão da doença por meio da ingestão de açaí é um problema significativo e persistente na região ao decorrer dos anos, onde os casos por transmissão oral ainda representam mais de 75% das notificações. Assim, percebeu-se a necessidade de uma abordagem integrada que una educação em saúde, vigilância rigorosa e adaptações na comunicação quanto as práticas recomendadas, tais ações devem levar em conta as especificidades culturais e sociais das comunidades visando à promoção de um consumo seguro de açaí e à proteção da saúde pública na região amazônica.