O que pode a orientação educacional na atualidade : a importância da escuta ativa coletiva

Abstract

Em 1930, Sigmund Freud publicou seu trabalho intitulado O Mal-Estar na Civilização. Em uma perspectiva histórica, apreende-se que esse mal-estar adquiriu diferentes contornos a partir das mudanças rápidas e contínuas dos séculos XX e XXI. Ele também está presente nas escolas, no entanto, desde a segunda metade do século passado e, até o momento presente, os efeitos desse mal-estar são nomeados pelas vias do fracasso escolar e da violência. A Orientação Educacional é a profissão convocada para lidar com essas realidades e a história mostra, que ao longo da constituição dessa profissão, houve muitas mudanças nas formas de responder a essa demanda. Historicamente, o viés prescritivo e ajustador dos comportamentos, silenciando os sujeitos escolares por meio de condutas disciplinadoras, individualizantes e padronizadoras, mostrou-se ineficaz, quando não potencializador do mal-estar escolar, levando, inclusive, à extinção dos processos formativos dessa profissão na formação inicial em Pedagogia. Porém, a profissão permanece nas escolas, e as escolas públiccas do Distrito Federal contam com 1132 Orientadores Educacionais. Atualmente, o mal-estar nas escolas mostra-se acentuado pela cultura do individualismo, da intolerância às diferenças pela ausência de uma leitura interseccional e subjetiva da realidade dos atores escolares, da crescente competitividade e da pressão por desempenho que estrangulam as dinâmicas interpessoais. A presente tese tem como objetivo geral analisar como o dispositio da escuta opera nas práticas da Orientação Educacional nas escolas públicas do DF. Os objetivos específicos são: 1. identificar as concepções dos orientadores educacionais acerca da profissão; 2. analisar como lidam com os efeitos do mal-estar na escola; 3. avaliar como compareceu a escuta ativa e coletiva na formação continuada desses profissionais e os impactos desse dispositivo em suas práticas. Para isso, a pesquisa foi elaborada com uma abordagem qualitativa, por meio de estudo de caso exploratório da profissão, com as seguintes estratégias: análise documental, grupo focal, entrevista semiestruturada e observação participante. No grupo focal e nas entrevistas, participaram 10 pedagogas orientadoras educacionais e 02 pedagogos orientadores educacionais atuantes na SEEDF. Houve também observação participante da prática de 02 orientadoras. Para a categorização e análise das informações obtidas, várias leituras flutuantes foram necessárias para extrair os conteúdos temáticos por meio da estratégia dos núcleos de significação. Foram extraídos três núcleos de significação: 1. as concepções das orientadoras educacionais do seu ofício, articulando a produção do mal-estar com a concepção tradicionalmente ligada ao trabalho das orientadoras; 2. os impasses enfrentados e as demandas direcionadas às orientadoras educacionais, em especial as relacionadas às violências e à medicalização do mal-estar escolar, assim como o próprio sofrimento das (os) orientadoras (es) educacionais ao entrarem em contato com essas demandas e expectativas; 3. Os efeitos do manejo do mal-estar a partir da formação continuada desses profissionais. Os resultados apontaram que esses profissionais se veem sobrecarregados pelas demandas que recebem, questionam e apontam falhas em suas formações iniciais e destacam a importância de redimensionar e criar um lugar para essa profissão nas escolas. Destacam, por fim, que os processos de escuta ativa e coletiva que ocorrem na formação continuada são fundamentais tanto para que se sintam fortalecidos para manejarem suas funções nas escolas, quanto para um possível redimensionamento da própria profissão, mais condizente com as demandas da contemporaneidade.