Redes sociais, financiamento e gênero nas eleições brasileiras para a Câmara dos Deputados de 2022

Abstract

Esta dissertação investiga como candidatas e candidatos gastam o recurso de financiamento com a campanha nas redes e a possível existência de relação entre os gastos com redes sociais e as chances de êxito eleitoral de candidaturas à Câmara dos Deputados nas eleições gerais de 2022, com especial atenção às desigualdades de gênero. O Brasil, enquanto Estado Democrático de Direito, como definido na Constituição de 1988, exige a participação efetiva de todos os cidadãos na esfera política. Sendo assim, a pesquisa analisa como o processo eleitoral brasileiro pode ser influenciado por fatores tecnológicos e de financiamento. A metodologia é exploratória, combinada com análise qualitativa e quantitativa de dados extraídos do site do Tribunal Superior Eleitoral (receitas e despesas de campanha) e dados da rede social Facebook (posts e comentários a fim de observar o engajamento dos candidatos). O recorte de análise foram as cinco candidatas e candidatos eleitos mais bem votados e os cinco menos votados e eleitos, dos respectivos partidos. Os resultados revelam que os deputados mais votados foram eleitos com mais votos do que as mulheres mais bem votadas; o Fundo Especial de Financiamento de Campanha foi a principal fonte de receita para a maioria das campanhas analisadas; as mulheres receberam poucos recursos do Fundo Partidário; as mulheres menos votadas receberam menos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, que as suas companheiras de partido mais bem votadas; os candidatos homens apresentaram maior engajamento médio nas redes sociais, do que as mulheres. A visibilidade digital, portanto, mostra-se como uma arena desigual, em que candidaturas femininas ainda enfrentam dificuldades para converter presença em apoio efetivo, exigindo maior atenção das políticas públicas voltadas à comunicação política e ao fortalecimento da participação feminina na esfera digital. Porém, podem significar um espaço de destaque para candidaturas inovadoras. Com base nessas análises, é urgente fortalecer políticas afirmativas que combinem reserva de assentos, financiamento igualitário, fiscalização contra fraudes em políticas afirmativas, formação digital de candidatas e regulamentação da atuação das plataformas digitais durante os períodos eleitorais, para evitar, dentre outros a violência política de gênero. O avanço democrático no Brasil depende da presença plena e protegida das mulheres na arena política, uma condição indispensável para a legitimidade, a inclusão e a justiça no processo democrático.