O sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) como modelo animal para pesquisa em deglutição : análise cineradiográfica do comportamento alimentar e das mudanças na fisiologia da mastigação e deglutição ao longo do envelhecimento saudável

Abstract

INTRODUÇÃO: O sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) destaca-se como um modelo animal versátil para estudos biomédicos. A semelhança genética e fisiológica com humanos, aliada à facilidade de manejo em laboratório, torna essa espécie ideal para explorar os efeitos do envelhecimento sobre a função de deglutição (presbifagia). Ao contrário dos estudos em humanos, onde a influência de múltiplos fatores afetam a neurobiologia do envelhecimento, o uso de animais permite um controle maior das variáveis, possibilitando uma caracterização mais precisa das alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento saudável. OBJETIVOS: Descrever as características da fisiologia mastigatória e de deglutição em saguis saudáveis de cativeiro, e elucidar como essas funções se modificam com a idade. MÉTODOS: 25 saguis (0 – 19 anos de idade) foram avaliados quanto as funções de mastigação e deglutição por gravações cineradiográficas. Os animais foram divididos nos seguintes grupos etários: infantil (1 – 4 meses), jovem (>1 ano), idoso (>10 anos) e muito idoso (>14 anos). No procedimento experimental utilizamos um aparelho de fonte de raios X microfocal e um intensificador de imagem de resposta rápida de berílio. A análise de imagem foi realizada usando o software ImageJ. RESULTADOS: Em nossa análise de 44 gravações, abrangendo 80 eventos alimentares e 784 deglutições, identificamos diferenças significativas na fisiologia da mastigação e deglutição entre os grupos etários. Os animais senis demonstraram um padrão alimentar caracterizado por bolos alimentares maiores, maior velocidade de ingestão e menor número de mastigações e deglutições por bolo alimentar, em comparação com os animais infantis e jovens. Além disso, descrevemos alterações anatômicas relacionadas à idade. A retenção esofágica esteve presente em todos os indivíduos. CONCLUSÃO: A fisiologia da alimentação dos saguis demonstrou notável plasticidade ao longo da vida, adaptando-se as mudanças relacionadas ao envelhecimento de forma semelhante ao observado em humanos. Os animais senis desenvolveram estratégias compensatórias para manter a eficiência alimentar, mesmo diante de alterações anatômicas e funcionais associadas à idade. A retenção esofágica, presente em todos os indivíduos, sugere uma característica fisiológica intrínseca da espécie. A cineradiografia revelou-se uma ferramenta indispensável de avaliação não-invasiva e detalhada da deglutição, garantindo o bem-estar animal. Os resultados obtidos neste estudo consolidam o sagui como um modelo promissor para investigar o processo de envelhecimento e mecanismos envolvidos na deglutição. Além de enriquecer o conhecimento sobre a espécie, nossas descobertas abrem novas perspectivas para a compreensão das adaptações naturais do organismo ao longo da vida, podendo ter implicações relevantes para a saúde humana em um futuro próximo.