Monstruar como ato de criação: práticas para se dançar com o infamiliar

Abstract

Esta tese estrutura-se em torno do enlace entre dança e as teorias da monstruosidade e objetiva sistematizar práticas de criação a partir da definição de monstruar: ato de deriva em direção ao monstro como função na criação, em processos de subjetivação e na prática pedagógica. Partindo primordialmente de uma metodologia da prática, ancorada na experiência e nas salas de ensaio, propõe também uma perspectiva metodológica monstrulabiríntica. A amostra de análise ancora-se em um percurso de pesquisa~criação que se realizou entre 2017 e 2024, mais especificamente em quatro processos composicionais desenvolvidos nesse período: dois espetáculos – O Fio de Minos (2019) e O Inquietante (2021) – e duas imersões práticas – Desmonte~Manada (2022) e Derivas do Inquietante (2023). Intentou-se aproximar a noção de monstro do “Infamiliar”, conceito da psicanálise freudiana (das Unheimliche), como estratégia de criação em dança que agencia processos de subjetivação. Delineia-se daí a noção de função~monstro como marco conceitual para se pensar os monstros como “operadores” em processos de criação em dança, o que culmina no desenvolvimento e na sistematização dos operadores de ativação do infamiliar: protocolos de ações físicas que visam proporcionar a desfiguração e o borramento do corpo cênico, de modo a criar estados corporais singulares e potentes. Observou-se na proposta a desestabilização de políticas de criação que conformavam práticas, ensaios, encenações e hierarquias de criação, enveredando-se também discussões acerca das relações entre dança e política na direção de se afirmar uma ética do corpo em movimento frente a um presente opressor. Como síntese, a tese propõe duas práticas de criação para se alcançar os objetivos aqui elencados: a prática P.B. (pós-básicos), estruturada em diálogo com um método de educação somática – Fundamentos Bartenieff –, e a prática O.A.I. (operadores de ativação do infamiliar), orientada pelos protocolos de ações físicas acima mencionados. A partir do enlace entre as duas práticas, organiza-se a proposta de tese em torno do trânsito contínuo entre: ~ Monstruar ~ P.B. ~ O.A.I. ~ Subjetivação ~ Corpo Cênico ~ Composição ~. Espera-se que as duas práticas de criação sejam base tanto para processos composicionais futuros quanto para novos rearranjos e propostas no âmbito da criação em dança.