Acesso à atenção primária à saúde pelos homens da comunidade quilombola de Mesquita-Goiás : interseccionalidade de raça, gênero e classe social

Abstract

A compreensão do quilombo na atualidade perpassa pela recuperação do histórico de expropriação, dominação e exploração da população negra no Brasil. Após séculos de escravidão, o Brasil passou por um processo de abolição, em que a inserção do negro nas novas relações de produção capitalista ocorreu de forma subalterna e marginalizada, acarretando um conjunto persistente de desigualdades que vivenciamos na atualidade. Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar de que forma raça, gênero e classe social influenciam no acesso ao direito à saúde pelos homens quilombolas de Mesquita-Goiás na atualidade. Para tanto, realizou-se entrevistas semi-estruturadas e revisão bibliográfica sobre o tema que auxiliou na fundamentação teórica e na reflexão crítica. Esta pesquisa foi submetida, por meio da Plataforma Brasil, e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), pelo parecer nº 6491590. Foram entrevistados 10 homens quilombolas e 7 profissionais da saúde. O roteiro de entrevista foi elaborado, a partir do problema de pesquisa, com questões relacionadas ao acesso dos serviços de saúde, raça, gênero e classe social. A realização das entrevistas aconteceu na própria comunidade, com visitas a Unidade Básica de Saúde. Após a coleta de dados, houve transcrição das entrevistas e análise os dados, a partir da técnica de análise de conteúdo. A pesquisa apontou que as comunidades quilombolas enfrentam múltiplos desafios no acesso à saúde, como a desigualdade geográfica, educacionais, falta de infraestrutura adequada, escassez de profissionais de saúde, além do racismo institucional, as desigualdades de gênero e as disparidades socioeconômicas. A interseccionalidade de raça, classe social e gênero produzem e reproduzem estereótipos e expectativas nos níveis institucionais, acarretando a invisibilidade das necessidades de saúde masculina. Portanto, raça, gênero e classe social são marcadores estruturais que determinam como ocorrerá o acesso e utilização dos serviços de saúde pelas populações. Verificou-se a existência de desafios culturais, institucionais e administrativos para implementação de um cuidado integral para os homens quilombolas, que perpassa pela necessidade de enfretamento aos eixos de opressão de raça, gênero, classe, além de mudanças culturais, organização dos serviços e formação dos profissionais.