Fatores associados à sífilis adquirida entre usuários de PrEP e o uso dos aplicativos de redes sociais para encontros sexuais em indivíduos com sífilis adquirida

Abstract

Introdução: Apesar de a sífilis adquirida permear séculos e ainda continuar afetando milhões de pessoas, hoje ela se apresenta em um cenário com a disponibilidade de tecnologias de mídias sociais informatizadas e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que previne o HIV, mas requer outros mecanismos para a prevenção de demais Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Objetivo: Analisar a incidência, os fatores associados e os modelos de predição da sífilis adquirida entre usuários de PrEP e explorar o uso de aplicativos (APPs) para encontros sexuais de indivíduos com sífilis. Materiais e métodos: Foram elaborados quatro estudos distintos. (i) Revisão sistemática de literatura científica, com análise de artigos publicados entre 2012 e 2023 que pesquisaram usuários de PrEP com o desfecho de sífilis adquirida. Realizou-se síntese descritiva e a análise de qualidade dos estudos selecionados. Em seguida, (ii) uma coorte retrospectiva eletrônica com dados de usuários de PrEP de todo o Brasil no período de 2018 a 2020. A partir dessa coorte (iii), desenvolvemos e testamos os seguintes modelos por meio de aprendizado de máquina: árvore de decisão (DT); k-vizinho mais próximo (kNN); modelos lineares generalizados (GLM); floresta randômica (RF); e reforço do gradiente estocástico (GBM). Por último, (iv) realizamos uma série de casos em um serviço de testagem rápida e aconselhamento para ISTs, localizado em Brasília, Distrito Federal, Brasil, entre 2020 e 2021, com indivíduos recémdiagnosticados com sífilis adquirida durante a pandemia da Covid-19. Resultados: Na revisão sistemática selecionamos 35 de 4.412 estudos, quase todos com qualidade alta ou satisfatória. A incidência agrupada de sífilis durante a PrEP foi de 8,89 casos por 100 pessoas-ano. Foram encontrados como fatores associados: idade de 35 anos ou mais, Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), histórico de ISTs e maior tempo em PrEP. Na coorte realizada no Brasil, dos 19.820 indivíduos acompanhados de forma efetiva, o coeficiente de incidência de sífilis adquirida foi de 19,1 casos por 100 pessoas-ano. Foi possível evidenciar fatores independentemente associados. Após a aplicação das modelagens nos dados da coorte, foi possível obter e validar os modelos preditivos, com desempenho do kNN apresentando sensibilidade de 0.77. Em relação ao uso de aplicativos para encontros sexuais durante a pandemia da Covid-19, das 97 pessoas estudadas, 64,52% utilizavam aplicativos de redes sociais para encontros sexuais, sendo os mais comuns Grindr® (39,18%), Whatsapp® (31,96%) e Facebook®/Instagram® (26,80%). Além disso, essas pessoas apresentavam altas proporções de comportamentos de risco para ISTs. Conclusão: A incidência de sífilis adquirida em usuários de PrEP é bastante alta, com um subgrupo de usuários mais vulneráveis à infecção que podem se beneficiar de estratégias específicas. Com os dados dos usuários de PrEP foi possível utilizar aprendizado de máquina para modelos preditivos da sífilis. É comum o uso de aplicativos para encontros sexuais por pessoas com diagnóstico recente, devendo essa associação ser mais compreendida em estudos futuros.