O discurso do relato integrado sob a perspectiva da contabilidade dialógica

Abstract

A proposta de adoção do Relato Integrado reside na busca pela melhoria da qualidade das informações divulgadas pelas organizações, a partir de uma visão a longo prazo e que considera a integração de informações financeiras e não financeiras. O Relato Integrado sob a perspectiva da contabilidade dialógica é capaz de incluir a diversidade de pontos de vistas e englobar os discursos da sociedade e dos grupos minoritários em seu conteúdo e a partir da oportunidade de engajar seus stakeholders ocorre a melhoria da prestação de contas e da accountability. No setor público brasileiro, o Relato Integrado foi adotado como modelo para elaboração do Relatório de Gestão das Unidades Prestadoras de Contas controladas pelo Tribunal de Contas da União, obrigatoriamente desde 2020. Tal fato, conduziu o objetivo geral da tese que consiste em analisar como a contabilidade dialógica atua na análise da construção discursiva sobre a adoção do Relato Integrado no contexto internacional e como ferramenta de Prestação de Contas e Accountability no Setor Público Brasileiro. Para atender ao propósito da tese foi adotada a Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe e aplicada uma abordagem qualitativa e documental. Foram analisados 18 documentos que compreendem o desenvolvimento do relato no contexto internacional publicados entre os anos de 2011 e 2021 e 5 documentos relacionados a adoção do relato no setor público brasileiro abrangendo o período de 2018 a 2022. Para análise dos documentos utilizou-se a Lógica de Explicação Crítica criada por Glynos e Howarth (2007, 2008) como metodologia para identificação dos discursos. Adicionalmente, os Relatórios de Gestão do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima referente aos anos de 2020 a 2023 foram analisados com base em um modelo de avaliação da prestação de contas que considera os princípios do Relato Integrado em conjunto com os princípios da contabilidade dialógica, cujo tratamento dos dados foi realizado por intermédio do software IRaMuTeQ®. Os resultados evidenciam que o International Integrated Reporting Council abre o diálogo com os interessados favorecendo um cenário para o desenvolvimento da democracia, em linha com os pressupostos da contabilidade dialógica. No entanto, seu discurso é hegemônico e tem como foco a informação direcionada ao provedor de capital financeiro e com enquadramento voltado para o cenário capitalista e do business case, ou seja, alinhado com a contabilidade monológica. Identificou-se que o discurso do Tribunal de Contas da União é antagônico ao discurso internacional do relato integrado, pois amplia o público do RI para a sociedade. A partir da aplicação das lógicas sociais, políticas e fantasmáticas é possível inferir que a busca pela integração, comunicação empresarial e o envolvimento com os stakeholders explicam o discurso identificado. Adicionalmente, a adoção do RI no setor público tem como motivação a melhoria da transparência, da prestação de contas da entidade e da accountability. Os resultados da análise empírica permitem concluir que o Relatório de Gestão do ministério possui indícios de contabilidade dialógica ao reconhecer a existência de múltiplas orientações ideológicas na divulgação das informações no relatório, bem como ao permitir acesso à não especialistas. Entretanto, há princípios da contabilidade dialógica que não são atendidos na publicação do relatório. Portanto, a tese contribui para a compreensão das formas discursivas dominantes e dos interesses políticos subjacentes em tornar o modelo do Relato Integrado obrigatório para a amostra delimitada. Ainda, o avanço de pesquisas que vinculem as propostas da Contabilidade Dialógica na área pode facilitar a discussão crítica e diferenciada do valor do Relato Integrado como uma iniciativa de mudança para promover relatórios democráticos e transparentes.