E tamanha foi a crueldade dele : representações da violência em Conceição Evaristo

Abstract

Este estudo tem como propósito analisar as obras em prosa de Conceição Evaristo, pela perspectiva do feminismo negro decolonial. O recorte para esta análise é a representação da violência. Também serão observados os corolários da violência, como os deslocamentos forçados, a exploração das populações afrodescendentes e sua consequente pobreza, e o racismo estrutural que está na raiz de todas as outras violências. Essa temática é imperiosa em um estudo de literatura afro-brasileira pela perspectiva decolonial, uma vez que figura em muitas obras, pois faz parte do cotidiano das classes subalternizadas, sobretudo das mulheres negras. Os deslocamentos humanos também são um tema comum nesses contextos, por isso, é recorrente sua representação nas obras literárias. Dessa forma, é necessário destacar sua relação com a literatura brasileira contemporânea e com a produção literária de Conceição Evaristo. O ponto de partida para esse tema é a diferenciação entre os diversos tipos de deslocamentos que têm como base de estudos as diásporas antigas e as modernas. Em seguida, será analisado como os deslocamentos figuram na literatura, formando o que Braga e Gonçalves (2014) conceituam como literatura diaspórica. Não menos importante, o racismo estrutural se constitui numa forma de ideologia, utilizada como estratégia de dominação, tornando- se uma das causas de exclusão social, política e, principalmente, econômica, ao classificar e segregar as pessoas pela raça, impedindo-as de ter acesso a recursos mínimos necessários para a sobrevivência. Para a análise literária serão utilizadas para análise as seguintes obras de Conceição Evaristo: Os romances Ponciá Vicêncio (2003); Becos da Memória (2017); Canção para ninar menino grande (2022) e as coletâneas de contos: Olhos D’Água (2016) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2016). Como base teórica serão utilizadas as obras de Rita Segato (2003; 2016; 2018; 2021; 2022); Sueli Carneiro (2005; 2011); Cuti (2010); Lélia Gonzalez (1988); Beatriz Nascimento (2018); Angela Davis (2016); Heleieth Saffioti (1999; 2016); Edward W. Said (2007; 2003); William Safran (1991); Robin Cohen (2008); David Chariandy (2006); Cláudio Braga e Gláucia Renate Gonçalves (2014), entre outros.