O sofrimento da equipe de enfermagem na pandemia de covid-19 : um estudo à luz do conceito de Dor Total

Abstract

Introdução: o cotidiano dos profissionais de Enfermagem que atuam na linha de frente dos cuidados a COVID-19 promove o contato constante com dor e sofrimento que afetam as distintas dimensões humanas. Objetivos: Este estudo tem como objetivo analisar as dimensões do sofrimento apresentados pelas equipes de Enfermagem no cuidado aos pacientes portadores de COVID-19 em Unidade de Terapia Intensiva, sob a perspectiva do conceito de Dor Total de Cicely Saunders. Método: pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa. Participaram profissionais de Enfermagem que atuaram na linha de frente do cuidado a COVID19, em dois hospitais públicos do DF. Os dados foram coletados por meio de questionário socioeconômico e entrevista semiestruturada. Para análise das entrevistas utilizou-se o software Alceste. Resultados: a análise de conteúdo das entrevistas revelou a existência dois eixos – o primeiro denominado Dores no exercício profissional foi composto por uma única classe chamada Dor Social Preexistente, representando 50% do discurso das participantes, apontando que a Enfermagem está exposta à dor e sofrimento antes da pandemia, o que denuncia que vivenciam cotidianamente a Dor Total. O segundo eixo denominado Dores na Pandemia foi composto por três classes – Dor Emocional; Dor Social e; Dor Física, compondo os demais 50% do discurso. Conclusão: Com base no conceito de Saunders, conclui-se que as dores enfrentadas pelas equipes de Enfermagem, influenciadas pelo paradigma que permeia a lógica capitalista e os modelos de atenção à saúde, tornam o trabalho da Enfermagem socialmente invisível e desvalorizado. A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças bruscas no cotidiano da Enfermagem e uma elevação significativa na demanda de cuidados, expondo ainda mais as diferentes dimensões da dor e do sofrimento que afetaram tanto suas vidas profissionais quanto pessoais e por isto requerem controle constante e intervenções específicas. Para isso, torna-se imprescindível ampliar espaços para a participação da Enfermagem nas decisões institucionais, implementar políticas públicas e medidas em níveis governamentais e institucionais que valorizem e reconheçam o papel da Enfermagem e suas especificidades, promovendo ação direta na raiz do sofrimento vivido pela categoria, oferecendo suporte que vise a melhoria das condições de trabalho e remuneração digna.