O feedback da avaliação no processo de inclusão, ensino e aprendizagem da matemática de estudantes com transtorno do espectro autista

Abstract

Diante da necessidade de romper com uma avaliação de caráter classificatório, excludente e meritocrático, a pesquisa proposta justifica-se sob uma perspectiva de avaliação formativa, que pode utilizar o feedback para apontar caminhos que, por meio do diálogo, promovam um processo reflexivo em prol da melhoria do ensino e da aprendizagem da Matemática, buscando uma abordagem inclusiva. Nesse contexto, o presente estudo, aparentemente seminal em âmbito local, aborda o tema do feedback no contexto da Matemática e autismo, com o objetivo de analisar em que medida o feedback utilizado nas estratégias de avaliação por uma professora de uma Sala de Recursos Generalista (SRG) e por uma professora de Sala de Aula Regular (SAR) do 1º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública do Distrito Federal brasileiro pode contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática e para a inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A dissertação, estruturada no formato Multipaper, teve o objetivo geral subsidiado se pelos objetivos de cada artigo: (i) identificar continuidades e rupturas nas normativas das práticas avaliativas brasileiras entre os séculos XVI e XXI, bem como investigar o papel do feedback nesse contexto; (ii) identificar a literatura brasileira que aborda especificamente o feedback no contexto do processo de ensino e aprendizagem da Matemática e a inclusão de estudantes com TEA no período de 2012 a 2021; (iii) analisar a percepção de duas professoras sobre avaliação e feedback nesse contexto; (iv) caracterizar as práticas de feedback dessas duas professoras para um mesmo estudante com TEA na SAR e SRG. Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, de cunho exploratório, utilizando como estratégia o estudo de caso. Quanto aos procedimentos e instrumentos utilizados para alcançar o objetivo geral da dissertação, e de acordo com as especificidades de cada artigo, foram empregadas revisão bibliográfica e sistemática, pesquisa historiográfica, pesquisa documental, entrevistas semiestruturadas com as professoras desses dois espaços, além de pesquisa de campo com observação na sala de aula regular e nos atendimentos na sala de recurso. A pesquisa evidenciou escassez de estudos sobre feedback na literatura brasileira, principalmente envolvendo TEA nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Constatou se, nas normativas nacionais e locais, uma ênfase à importância e ao uso da avaliação formativa e do feedback, como medida de ruptura com práticas avaliativas e de feedback não formais presentes em documentos da educação jesuítica e comeniana. Esse enfoque também emergiu nas práticas pesquisadas, uma vez que a percepção das professoras sinaliza a avaliação como indissociável do processo pedagógico. Elas enfatizaram a importância de ser flexível, adaptável, contínua, processual, dialógica e centrada em aspectos qualitativos, evitando qualquer caráter punitivo e classificatório. O feedback é valorizado em uma dimensão afetiva, com ênfase motivacional, que ressignifica erros em oportunidades de aprendizado e promove o protagonismo estudantil, além de servir como recurso para reorganização do trabalho pedagógico. Evidenciam-se, assim, rupturas com a exclusão branda dos estudantes com TEA. Os desafios identificados incluem indícios de práticas avaliativas espontâneas e equívocos quanto às funções da avaliação, ao rigor e aos instrumentos referentes à avaliação formativa, provavelmente decorrentes de lacunas na formação docente, do elevado número de estudantes por turma, da alta rotatividade de professores e de lacunas quanto a estratégias de feed up e feed forward. Apesar das práticas caracterizarem se por uma elevada ênfase em feedbacks avaliativos de aprovação, com foco na pessoa do estudante em detrimento de serem descritivos nos níveis da tarefa e do processo, e em fomento à regulação, explorando as causas e natureza do erro de forma dialogante e indicando caminhos para avançar, observa-se a ausência de feedbacks punitivos, a disposição para a reflexão crítica e proativa, a valorização do protagonismo estudantil e a percepção de que todos podem aprender. Esses aspectos emergem como pontos fortes no processo de ensino e aprendizagem e inclusão do estudante com TEA. Isso sugere um movimento promissor em direção a uma cultura de feedback mais interativa, reflexiva e de ruptura com práticas unidirecionais, classificatórias e excludentes. No entanto, o estudo conclui ressaltando a necessidade de aprofundar a discussão sobre características, variáveis e elementos importantes na estruturação de feedback formativo, tanto em diretrizes avaliativas locais quanto na formação docente. Isso é crucial para superar os obstáculos à efetivação de uma prática avaliativa na perspectiva da educação Matemática inclusiva. Como contribuição para o contexto, atendendo ao requisito de produto educacional, ao longo do Mestrado foram publicados três artigos e dois capítulos de livros com os resultados parciais do estudo, abordando a temática do feedback.