Rotulagem nutricional frontal sob a ótica de consumidores brasileiros

Abstract

Objetivo: Comparar o efeito de cinco modelos de rotulagem nutricional frontal (RNF) de alto conteúdo no entendimento do conteúdo nutricional, nas diferentes percepções (saudabilidade do alimento, atributos dos modelos, risco gerado após a visualização dos modelos) e na intenção de compra de alimentos entre consumidores brasileiros. Metodologia: Foram realizados dois estudos transversais. No primeiro, foi aplicado questionário online a 2.400 indivíduos, alocados de forma aleatória em seis grupos de estudo (controle, sem RNF e cinco grupos expostos a diferentes modelos de RNF - octógono, triângulo, círculo vermelho, lupa e semáforo). Os participantes visualizaram nove alimentos, com o modelo de RNF do grupo que pertenciam. Foi avaliado o entendimento do conteúdo nutricional; a percepção de saudabilidade do alimento, dos atributos dos modelos e de risco gerada após a visualização dos modelos, e; a intenção de compra dos alimentos. O segundo estudo foi realizado por meio de simulação de compra online, em que os 1.088 participantes foram alocados aleatoriamente em seis grupos, sendo um controle e cinco expostos a modelos de RNF (octógono, triângulo, círculo preto, lupa e semáforo) aplicados a oitenta e três alimentos, com o modelo de RNF do grupo que pertenciam, quando aplicável. Foi utilizado teste ANOVA one-way e pós teste Tukey para identificar diferenças entre as médias e teste qui-quadrado de Pearson para identificar diferenças entre as caraterísticas dos participantes. Resultados: No primeiro estudo, todos os modelos de RNF aumentaram o entendimento nutricional e reduziram a percepção de saudabilidade e intenção de compra, quando comparados ao grupo controle. Os modelos de RNF de advertência - octógono (62,4%), triângulo (61,9%) e círculo vermelho (61,8%) - apresentaram desempenho significativamente superior ao semáforo (55,0%) quanto ao adequado entendimento do conteúdo nutricional. Para este desfecho, o desempenho da lupa (59,5%) não diferiu dos outros quatro modelos testados, inclusive do semáforo. A análise individual dos alimentos sugere melhor desempenho das advertências em relação à lupa e ao semáforo para a percepção de saudabilidade e a intenção de compra. Os consumidores manifestaram-se favoráveis à presença da RNF, percebendo-a como confiável. No segundo estudo, não houve diferença entre os modelos de RNF e em relação ao grupo controle no que se refere a redução da intenção de compra de alimentos com alto teor de nutrientes críticos (açúcares, sódio e gordura) ou de ultraprocessados. A percepção de risco após a visualização dos cinco modelos testados foi alta (média variando entre 4,0 e 4,3, em escala de 5 pontos), sem diferença estatisticamente significativa entre os modelos estudados. Conclusão: A RNF de advertência (octógono, triângulo e círculo) deve ser implementada nos rótulos dos alimentos no Brasil, considerando que aumenta o entendimento nutricional. A RNF não reduziu a intenção de compra de alimentos com alto teor de nutrientes críticos e ultraprocessados, apesar da alta percepção de risco identificada nos grupos expostos os cinco modelos de RNF. Futuros estudos devem aprofundar a análise do efeito da RNF na intenção de compra de alimentos, considerando interação da RNF com outros fatores influenciadores na decisão do consumidor.