Variáveis antropométricas e bioquímicas séricas relacionadas à presença de gordura visceral em mulheres

Abstract

O acúmulo excessivo de tecido adiposo visceral (TAV) pode contribuir para maior risco de comorbidades e refletir um estado precoce ou avançado de distúrbio metabólico quando comparado a outros tipos de obesidade, enquanto que, uma massa muscular (MM) diminuída pode contribuir para a manifestação de doenças metabólicas e dislipidemia. Evidências apontam que indicadores antropométricos e análises bioquímicas séricas apresentam correlação com gordura visceral e massa muscular de forma isolada, mas poucos estudos comparam esses indicadores como fatores preditivos de alterações na gordura visceral e na relação entre massa muscular e tecido adiposo visceral (MM/TAV). Para tanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a correlação entre a adiposidade visceral e o desenvolvimento de problemas de saúde e alterações nos parâmetros bioquímicos séricos em adultos de meia-idade e idosospor meio de uma revisão da literatura, e identificar e analisar possíveis variáveis preditoras de alteração na gordura visceral e na relação MM/TAV, em mulheres adultas de baixa renda por meio de dois estudos de dados originais. Para a revisão, artigos da base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) publicados entre 2009 e 2019 foram utilizados e selecionados após a aplicação de critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos. Já para os estudos de dados originais, foram coletados informações sobre medidas antropométricas e exames bioquímicos do prontuário de mulheres de 18 a 59 anos em consulta nutricional no Centro Universitário de Brasília (CEUB), e analisados em um modelo de regressão logística univariada para identificar os possíveis fatores de risco preditores para a presença de TAV alterado e MM/TAValterado. Em relação aos resultados, observou-se que a busca bibliográfica encontrou ao final 14 publicações que correlacionaram o TAV com parâmetros bioquímicos séricos e diversas comorbidades (como pancreatite, depressão, câncer e doença cardíaca coronária) , enquanto que o modelo de regressão logística considerou o índice de massa corporal (IMC) maior que 25 kg/m2, produto de acúmulo de lipídios (LAP) e razão cintura-quadril (RCQ) como preditores de TAV alterado, e a RCQ maior que 0,8 como preditora de alteração da relação MM/TAV. Portanto, entende-se que a RCQ tem capacidade preditiva robusta para alterações na gordura visceral e na relação entre massa muscular/gordura visceral, enquanto que o LAP e o IMC apresentam capacidade preditiva apenas para o TAV, o que torna essas variáveis eficazes na avaliação do risco de alterações da composição corporal e sua inclusão essencial na prática clínica individual e coletiva.