Receita de família : autoficção, pós-memória, gênero e resistência política na peça Bolo Republicano

Abstract

Esta dissertação busca compreender como a noção de autoficção operou nas construções dramatúrgicas da peça Bolo Republicano, escrita e produzida por esta autora entre os anos de 2021 e 2023 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Considera-se as relações entre questões de gênero, memória e pós-memória como aportes sociais e políticos para a análise do objeto de estudo. A partir da metodologia prática como pesquisa, realizou-se estudos sobre o trauma familiar herdado, repercutindo na memória e nos corpos de gerações posteriores. Através da teoria teatral performativa, site-specific, teorias psicanalíticas e políticas, relevou-se a importância de valorizar a autoficção, no contexto da ‘escrita de si’ no teatro contemporâneo, sobretudo no teatro feminista, como forma de operar a memória no presente e para o futuro. Verifica-se que a autoficção nos estimula a operar a partir da natureza inventiva da memória, permitindo-nos olhar para nossas memórias e suas relações com o presente de modo crítico em amplas perspectivas. Considera-se que uma autoficção familiar, pautada na performance, que atravessa dois tempos sociais históricos diferentes, pode criar na dimensão pública condições favoráveis para refletirem seu próprio posicionamento em determinadas esferas da vivência política. Conclui-se que uma obra artística que propõe discutir pós-memórias e memórias familiares pode ter relevância e impacto social, assim como pode atuar como resistência política na forma de fazer teatral.