A constituição estética de si de crianças e adolescentes candomblecistas nas fronteiras entre o terreiro e a escola

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo analisar os processos de constituição estética de si de crianças e adolescentes candomblecistas, considerando a fronteira terreiro/escola. A perspectiva teórica assumida foi a Psicologia Cultural, na qual são considerados os aspectos históricos, culturais e dialógicos envolvidos nos processos de desenvolvimento humano. De maneira interdisciplinar, também integraram a fundamentação teórica do trabalho os conceitos da Teoria Dialógica da Linguagem, de Mikhail Bakhtin, e os pressupostos da Teoria do Posicionamento, os quais embasam o conceito de “estética de si”. A metodologia utilizada inseriu-se na abordagem qualitativa de base etnográfica, por meio da imersão nos terreiros de candomblé frequentados pelos participantes. Participaram da pesquisa 11 crianças e adolescentes candomblecistas estudantes de escolas públicas do Distrito Federal, com idades entre 9 e 17 anos. Para a produção das informações, foram realizadas observações participantes nos terreiros de candomblé e rodas de conversa com os participantes. A análise das informações foi realizada por meio da Análise Temática Dialógica, a partir da qual foram identificadas as axiosferas, os temas, os afetos enunciados e os posicionamentos dos participantes da pesquisa. Defendemos a tese de que a constituição estética de si das crianças e adolescentes candomblecistas se dá na região fronteiriça entre as axiosferas terreiro, escola e família, onde as tensões geradas pelos embates axiológicos as impelem a posicionar-se nas interações. Compreendemos, ainda, que quanto maior a intimidade dessas crianças e adolescentes com os valores, os conhecimentos e os rituais das comunidade de axé, maior a possibilidade de que sua constituição estética de si se apresente como afrorreferenciada, colaborando para que elas se sintam mais seguras para se posicionarem de modo a assumirem e defenderem sua religião.