O tradicional como perspectiva de futuro : relações ecológicas e conflitos ambientais entre as comunidades veredeiras do Norte de Minas Gerais

Abstract

O presente trabalho busca compreender os diferentes processos políticos em que um conjunto de comunidades do Norte de Minas Gerais passou a acionar e experienciar a partir da construção do “ser veredeiro”, a fim de objetivar sua identidade historicamente reconhecida por grupos de fora e recentemente autorreconhecida por eles próprios como Povos e Comunidades Tradicionais. As comunidades veredeiras contempladas nesse estudo estão localizadas nas regiões dos Planaltos Sanfranciscanos, concentradas, principalmente, nas extensas áreas de chapadas da margem esquerda do rio São Francisco, distribuídas nas bacias dos rios Pardo e Pandeiros, que abarcam os municípios de Januária, Bonito de Minas, Chapada Gaúcha, São Francisco e Cônego Marinho. Tais comunidades encontram-se em uma ampla faixa de tensão ecológica onde se sobrepõem áreas de Cerrado, da Caatinga e porções de Mata Seca, o que confere a estas terras alta variação de espécies vegetais e animais, faixas de solos férteis e, até algumas décadas, alta disponibilidade de água superficial. Desse modo, objetivo analisar os processos de organização sociopolíticos das comunidades veredeiras atrelados à relação estabelecida com o ambiente ao qual estão vinculadas. Para tal, tomei como principais elementos dessa abordagem: (i) os processos históricos, políticos e ecológicos que são intrínsecos à experiência veredeira na relação e construção do seu ambiente; (ii) as redes colaborativas que essas comunidades vêm tecendo ao longo de sua trajetória de reivindicação territorial; (iii) as mudanças ocorridas na própria relação com o ambiente a partir do engajamento junto aos movimentos sociais ligados à agenda de povos e comunidades tradicionais; (iv) o esforço em compreender as práticas cotidianas desenvolvidas no território, assim como a incorporação de novos conhecimentos adquiridos por meio da experiência de indivíduos com outros povos tradicionais e com movimentos sociais; (v) as transformações ambientais ocorridas desde a década de 1970, oriundas da implementação de grandes projetos de desenvolvimento que impactaram diretamente a relação dessas comunidades com seu ambiente. E, por último, (vi) verificar as principais estratégias de construção de futuro, desde uma perspectiva ecológica própria, a partir do que defini como território-ruína, ambientes habitados fortemente degradados pelas empresas vinculadas ao setor agrominerário.