A amizade de crianças com TEA na primeira infância e a inclusão escolar

Abstract

A relação de amizade na infância tem sido vista na literatura como uma forma de socialização significativa e que contribui para diversos aspectos do desenvolvimento da criança. Embora se considerem relevantes as pesquisas desenvolvidas nesse campo, não foi possível identificar na literatura como as crianças com autismo consideram, desenvolvem e mantém a amizade. Os estudos, em sua maioria, têm definido e caracterizado a amizade sem levar em conta as vivências das pessoas com autismo, suas diferentes perspectivas e manifestações em ambiente natural. Em consideração a isso, construiu-se o objetivo dessa pesquisa, buscando compreender como ocorre o processo de desenvolvimento das relações de amizade em crianças com TEA na primeira infância, em situações de interação com seus pares, no contexto escolar. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, conduzida através do estudo de caso numa perspectiva longitudinal, estruturando-se na Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) como caminho metodológico norteador desta investigação. Os participantes foram duas crianças com diagnóstico de TEA, matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental, as crianças de turma que interagiram com elas, as educadoras responsáveis e seus pais. Os procedimentos de coleta de informações foram: estudo exploratório, entrevista semiestruturada, videogravações de momentos de interação, conversação guiada por roteiro semiestruturado e diário de campo. A análise dos dados produzidos baseou-se na análise microgenética das informações videogravadas, do conteúdo das entrevistas e da conversação através de análise temática adaptada à psicologia, demarcados pelas contribuições teóricas da revisão de literatura e da obra de Adams e Quinones (2020). Foi elaborada uma tabela com categorias e subcategorias no que se refere às características da amizade, que permitiu evidenciar diferenças qualitativas deste fenômeno entre crianças com autismo. Em função disto, suscitam-se possíveis contribuições para ampliar o conceito e compreender o processo de desenvolvimento da amizade, considerando essencial a inclusão das vivências das próprias crianças com autismo e de sua rede de apoio. Ficou evidenciado que as características típicas das crianças com TEA não se apresentaram como empecilhos para estabelecer relações de amizade com outras crianças. Também ficou constatado que o ambiente escolar e a mediação do adulto podem favorecer o desenvolvimento da amizade. Considera-se importante a produção de pesquisas sobre este assunto para que sejam ampliados os conhecimentos que têm sido divulgados até o momento, especialmente, investigações sobre a amizade de crianças com autismo e propostas de práticas inclusivas voltadas para esse público nos diferentes níveis e modalidades de ensino.