Gerenciadas pelos mercados financeiros : um estudo comparado das gigantes da carne do Brasil e dos Estados Unidos

Abstract

A partir dos anos noventa e das primeiras décadas do século XXI, observa-se um crescimento contínuo e extraordinário da riqueza financeira, superando o Produto Interno Bruto (PIB nominal), em muitos países, fruto da ascensão dos lucros oriundos das atividades financeiras. Ao mesmo tempo, há a um declínio duradouro das taxas reais de crescimento econômico, gerando aumento do desemprego e redução da renda, entre outras consequências. Os dois processos ensejam o fenômeno da financeirização no capitalismo contemporâneo. Pela influência pervasiva dos mercados financeiros, as grandes empresas de capital aberto passam por mudanças na governança corporativa que se aproximam da lógica de gestão de ativos que muito se distancia do capitalismo gerencial que prevaleceu no pós-guerra. É uma governança corporativa pautada pela ideologia de maximização de valor ao acionista. São privilegiados os critérios de rendimentos financeiros de curto prazo. Esta tese objetiva entender a relação entre a financeirização e as mudanças na governança corporativa. Para isso, são consideradas estratégias e práticas empresariais das corporações agroalimentares da carne. A hipótese da tese é que a internalização de estratégias e práticas do mercado financeiro adotadas pelas empresas conduzem a uma gestão empresarial em que os recursos da firma são tratados como ativos financeiros. O método consistiu em um estudo comparado orientado ao caso combinando com técnicas de análise para o entendimento de relações de causalidade dentro e entre os casos. São seis casos, as empresas do Brasil e Estados Unidos – JBS, Marfrig, BRF, Minerva, Tyson e WH Group – que dominam a cadeia de valor da carne no mundo. Um dos achados da tese foi identificar a dependência de trajetória da financeirização das empresas, compostas sequencialmente pela abertura de capital, práticas de curto prazo, aquisições e fusões, oligopolização da cadeia de valor. Dinâmica que é retroalimentada pelas mudanças na composição acionária e atração de novos investidores, ditadas pelo mercado financeiro. Outro achado é que mesmo em empresas que não pertencem inteiramente ao conjunto das empresas financeirizadas, há uma forte presença das práticas de financeirização. São grandes empresas de capital aberto que mantêm forte controle familiar, mas que também adotam uma governança corporativa associada à lógica do mercado financeiro.