Os ecos de nossas vozes na Universidade Aberta do Brasil : letramentos críticos reflexivos como práticas discursivo-identitárias de (re)existência

Abstract

Chimamanda Adichie (2019) afirma que todas as histórias importam e alerta sobre o perigo de uma história única, a qual reduz pessoas, povos, culturas a uma imagem só. Nesse sentido, a colonialidade do saber vem sendo contestada há muitos anos por estudiosos que consideram relevante superar a separação entre sujeito e mundo, incluindo as questões humanas e sociais no contexto educacional e universitário (Dias; Coroa; Lima, 2018). Paulo Freire e bell hooks apontam para a importância de construirmos uma educação libertadora, a partir de um trabalho pedagógico que busque a formação integral dos indivíduos, de modo a desenvolvermos capacidades que permitam nos libertar dos laços que nos impedem de ser gente. A partir desse contexto, esta pesquisa teve o intuito de investigar se práticas de letramentos críticos reflexivos, situados no contexto da Universidade Aberta do Brasil (UAB/UnB), reverberam na transformação identitária das participantes do ponto de vista social (estudantes acadêmicas e futuras professoras), pessoal e como agentes de mudança. O estudo apoiou-se em referenciais teóricometodológicos dos Estudos Críticos do Discurso, sobretudo a Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki; Fairclough, 1999; Fairclough, 2001, 2003) e os diálogos da América do Sul (Magalhães, 2017; Magalhães e outros, 2013; Vieira; Resende, 2016; Dias, 2011, 2015, 2020; Dias; Coroa; Lima, 2018; Ottoni, 2007, 2018; Ottoni; Magalhães, 2020), relacionados com a Teoria Social do Letramento (Barton, 1994; Barton e Hamilton, 1998; Street, 1993, 2014; Freire, 1987, 2005; Kleiman, 1995; Rios, 2013, 2020, 2021; Souza, 2009; Monte Mór, 2015, 2021 e outras/os) e com as pesquisas de escrita autoral e criativa realizadas no âmbito do Grupo de Estudos Autoria Criativa (Gecria/UnB) (Albuquerque, 2020; Queiroz, 2020; Alves, 2021a; Dias, 2021a, 2021b; Sousa, 2022; Lima, 2023; Azambuja, 2023; Sousa, 2023 - no prelo, e outras/os), com inspirações nas perspectivas decoloniais (Maldonado‑Torres, 2007; Quijano, 2009; Santos, 2009; Balestrin, 2013; e outras/os). Trata-se de uma pesquisa qualitativa com foco na etnografia crítico-discursiva de cunho (auto)etnográfico. Os dados foram gerados em uma comunidade de aprendizagem construída a partir de textos autorais das participantes (Portfólios) e textos escritos coletivamente (Narrativas solidárias) na disciplina de Leitura e Produção de Textos, no curso de Letras da UAB/UnB, e na 1ª Oficina de Escrita Criativa UAB/UnB, bem como das entrevistas (Conversas reflexivas) e de relatos (auto)etnográficos. Baseando-se nas análises discursivas críticas textualmente orientadas e nos diálogos transdisciplinares com os estudos do letramento e da autoria criativa realizados no Gecria, o estudo aponta, dentre outros achados, que: (a) comunidades de aprendizagem no âmbito da Universidade Aberta do Brasil podem contribuir com a diminuição da distância que existe no ensino a distância; (b) práticas discursivo-identitárias em uma comunidade de escrita podem ativar a autoria na escrita a fim de aproximar quem escreve de si mesma/o e possibilitar que discursos dados sejam revistos e reconstruídos; e (c) letramentos críticos reflexivos na educação a distância possibilitam uma escrita autoral e novas formas de agenciamento na vida pessoal, na vida acadêmica (como estudantes e como futuras professoras) como agentes de mudança. Desse modo, o trabalho com letramentos críticos reflexivos pode ser uma alternativa às práticas textuais ainda coloniais, masculinas, machistas, racistas, a fim de desenvolver uma metodologia com práticas discursivas e identitárias de (re)existência.