A escrita que nos escreve : escrita autoral criativa em contexto de implementação do Novo Ensino Médio

Abstract

A presente pesquisa está vinculada ao Programa de Pós Graduação em Linguística – PPGL da Universidade de Brasília e ao Grupo de Pesquisa – Educação crítica e autoria criativa – GECRIA (UnB/CNPq) e tem como objetivo geral compreender as práticas de escrita autoral criativa em escola pública, com foco nos processos discursivos de autoria de textos em contexto de implementação do Novo Ensino Médio. Esse interesse surge por conta da observação de forças criativas da autoria, vivenciadas por mim, uma designer graduanda do curso de Licenciatura em Letras pela UnB, e pelas transformações identitárias pelas quais passei ao me deparar com atravessamentos internos, desvelados por meio dos meus textos em percursos, como aprendiz, nas comunidades de escrita do GECRIA. A partir dessas vivências, surge o desejo de compartilhar, de observar de forma participativa, de aprender e de dialogar sobre essas práticas com estudantes e professoras(es) em salas de aula de escola pública de Ensino Médio, assumindo uma postura crítica sobre o foco na escrita de redação do ENEM. De uma escrita engessada pela escolarização bancária (FREIRE, 1987), que nos apaga, à escrita que nos escreve, busco caminhos de compreensão sobre o que está posto como contexto sociopolítico na ordem do discurso escolar (FOUCAULT, 1971[2003]) e procuro atalhos que iluminem outros modos (alternativos e criativos) de relação com a escrita nas escolas. Focalizo perspectivas outras que vão além daquelas utilizadas para decifrar os códigos estabelecidos pelo ranço colonizador que dita o que, como e porque se deve escrever na escola. É nesse sentido que busco, ancorada no arcabouço teórico e metodológico da Análise do Discurso Crítica - ADC (FAIRCLOUGH, 2003; CHOULIARAKI E FAIRCLOUGH, 1999, 2003) e em diálogos críticos sobre educação, currículo e pedagogia em Ribeiro (1984), Freire (1981[1989], 1996), Laval (2003[2004]), Libânio (2012), Gadotti (2021), Giroux (1983, 1997), Saviani (2010, 2014), Dias (2011, 2021), hooks (2013), dentre outros, investigar os poderes causais provocados pelas práticas pedagógicas e metodológicas da escrita em três gestos, na perspectiva do GECRIA, em disciplina eletiva de escrita criativa. A metodologia que ancora esta pesquisa parte de um olhar (auto)etnográfico crítico e discursivo para as mudanças identitárias, experimentadas por mim e por outros sujeitos da escola (estudantes e docentes), em escolas públicas do Distrito Federal. As análises realizadas se situam sobre práticas sociodiscursivas das e dos participantes, vivenciadas em trabalho de campo com estudantes de Ensino Médio e seu professor, no decorrer de um semestre letivo, em disciplina eletiva. Como contexto sociodiscursivo trago reflexões resultantes de diálogos reflexivos com duas professoras de outros dois campos e três estudantes pesquisadoras (PIBIC/UnB/GECRIA) que participaram da pesquisa como minhas tutoras em sua própria escola. Trago, pois, resultados que, a partir da metodologia dos três gestos da escrita, quais sejam, o impulso (desbloqueio), a intuição (criatividade baseada em consciência linguística e estilística) e a pulsação (ápice da presença autoral criativa), buscando o desbloqueio e a aproximação com a escrita em uma perspectiva de pertencimento e reflexividade, dados discursivos docentes e discentes resultantes dos poderes causais construídos por meio dessas práticas de escrita.