Práticas de letramento no ensino remoto emergencial : uma (con)vivência escolar

Abstract

Neste estudo observei as aulas online de duas turmas do primeiro ano do Ensino Médio de uma escola pública de São Sebastião, no Distrito Federal. Objetivei compreender as práticas de letramento realizadas no Ensino Remoto Emergencial entre os anos de 2020 e 2021, bem como os multiletramentos que organizam tais práticas. Além disso, realizei o levantamento das maiores dificuldades elencadas pelos participantes de pesquisa durante a vivência da escola online. Para tanto, adotei a etnografia virtual, que estuda as práticas sociais/educacionais na internet e pela internet (HINE, 2003). Partí das ferramentas de geração/coleta de dados voltadas para o diário de bordo, fruto da observação etnográfica da pesquisadora, entrevistas realizadas com a professora colaboradora, formulário para acessar as vivências dos estudantes. Os textos multimodais ganharam uma proporção maior, tanto na criação quanto na veiculação/compartilhamento em tempos de pandemia da Covid-19, visto que muitas das práticas educacionais e sociais passaram a ser realizadas via internet. Assim, as tecnologias e ferramentas digitais propiciam a criação e consumo desses textos (BILL, KALANTZIS & COPE, 2020), o que exige novas formas de letramentos para esses tempos. No que tange aos maiores desafios e possibilidades do Ensino Emergencial Remoto, alunos relataram dificuldades no acesso a bens imprescindíveis ao estudo online, tais como internet de melhor qualidade, smartphones e computadores em bom estado. Esse fator, estruturante da exclusão digital que dificulta o acesso de pessoas empobrecidas à internet e aos meios para usá-la contribui diretamente para o aprofundamento de desigualdades educacionais e sociais (MONTEIRO, 2021). A professora colaboradora relata, por sua vez, aumento da jornada de trabalho com efeitos negativos para sua saúde. Eu, enquanto pesquisadora, narro brevemente uma sobrecarga entre a maternagem e a pesquisa.