A luta por dentro da luta : disputas e tensões sobre gênero e raça no PCB

Abstract

Esta tese analisa o lugar das relações sociais de Gênero e Raça nas ações programáticas, táticas e estratégicas no Partido Comunista Brasileiro (PCB) entre as décadas de 1990 e 2020. Considerando que tais relações são constitutivas do desenvolvimento capitalista na formação sócio-histórica brasileira, por meio da pesquisa bibliográfica, análise documental e de conteúdo dos cadernos de resoluções do partido (X aos XVI cadernos de resoluções), verificamos como nas últimas três décadas o PCB apreendeu a constituição da classe trabalhadora brasileira. Com base nos escritos de Marx e Engels sobre a formação da classe trabalhadora na França e na Inglaterra, buscamos ampliar as categorias proletariado e operariado para abarcar a classe trabalhadora brasileira que, desde a invasão portuguesa, e com a economia escravista-colonial, foi e é heterogênea. Compreendendo esta heterogeneidade da classe a partir de Linden, Badaró, Saffioti e Clovis Moura, percebemos como o PCB é conservador e retrógrado na atenção e adesão às lutas antimachista e antirracista. Mesmo com quadros intelectuais orgânicos que desde 1960 faziam a defesa da diversidade na composição da classe, seguindo as orientações de Lênin e da Internacional Comunista, só no início da segunda década deste século o partido, após as manifestações de junho de 2013, implementou no XV congresso, como frentes de massa, o coletivo feminista Ana Montenegro e o antirracista Minervino de Oliveira, o que demostra como o partido teve uma conduta conservadora na análise e na prática. Esta tese nos possibilitou verificar ser assertiva a visão do PCB em relação à reestruturação produtiva, ao neoliberalismo e às refrações nas instituições tradicionais de representação e proteção da classe trabalhadora, mas que é incipiente, débil, espontânea e amadora a forma como o Partido Comunista Brasileiro tem se comprometido com as demandas reais de mulheres e negros/as na luta pela emancipação política e humana.