Retábulo de Santa Joana Carolina, de Osman Lins : tecendo Mistérios de santidade

Abstract

Este trabalho identifica, na quinta narrativa de Nove, Novena (1994), de Osman Lins, originalmente publicada em 1966, os Mistérios que conformam seu tecido poético, alinhavado em retalhos de santidade. O objetivo é analisar o entrelaçamento dos trechos narrativos do Retábulo de Santa Joana Carolina¸ ecoados pelas vozes que se alternam em meio ao silêncio da heroína – revelador da espiritualidade do “rosário com que rezou a vida inteira pelos que amava e pelos que a perseguiam”. Observados os pilares estruturais (visual, espiritual e cênico) do enredo – em que pulsam as marcas do medievo e os traços barrocos, a contrastarem com a modernidade da narrativa osmaniana –, destaca-se a instância da palavra como fundamento definitivo, configurando o gesto criador do texto literário e cuja força semântica amplia-se para a correlação com o ato do Criador na cosmovisão cristã ocidental. Em perspectiva comparada, a aproximação entre os estudos sobre Literatura e Espiritualidade configura a base teórica deste trabalho, cujos aportes metodológicos apoiam-se na dimensão fenomenológica do pensamento filosófico, particularmente de pesquisas nas áreas da Filosofia da Religião e da Teologia; nas contribuições da Teoria Literária, notadamente dos pensamentos de José Ortega y Gasset, Alfredo Bosi, Otto Maria Carpeaux e Ernest Curtius, entre outros; e de consulta a Dicionários especializados, como o Dicionário de Espiritualidade, organizado por Ancilli, o qual também figura como importante sustentáculo para o desenvolvimento desta tese. Instigada pelo espanto causado ao principal algoz da protagonista, que ele próprio caracteriza como seu “quinhão de espanto em uma vida pobre de Mistério”, proponho uma leitura do corpus que examine o estado de santidade da personagem principal, considerando textos teológicos, dogmáticos e catequéticos sobre os processos de canonização conduzidos pela Igreja Católica, e que não seja avessa ao sopro da transcendência e da imaterialidade existencial.