Resistência aos antimicrobianos da hanseníase no Brasil

Abstract

Introdução: A hanseníase é uma doença crônica infecciosa e transmissível. A atual estratégia de controle está fundamentada, principalmente, na poliquimioterapia (PQT), que tem como um dos objetivos prevenir a resistência antimicrobiana (RAM). Em 2018, o Brasil implementou a vigilância da RAM na hanseníase. No entanto, poucos são os estudos sobre a temática, principalmente de abrangência nacional. Objetivo: Esta tese teve como objetivo analisar a acurácia dos testes diagnósticos para a resistência antimicrobiana e a frequência de resistência antimicrobiana nos pacientes de hanseníase no Brasil. Método: Foram desenvolvidos dois estudos: o primeiro foi uma revisão sistemática com metanálise dos estudos de acurácia diagnóstica e dos estudos de rastreio para a RAM. Foram feitas buscas em bases de dados científicas em saúde e na literatura cinzenta, sem limite de data ou idioma. Os estudos foram eleitos por dois pesquisadores independentes, que retiraram os dados e avaliaram a qualidade. O segundo foi um estudo transversal que procurou determinar a frequência da RAM nos pacientes de hanseníase no Brasil por grupo de investigação no período de 01 de outubro de 2018 a setembro de 2020. Além de investigar fatores associados à RAM por meio de regressão logística. Resultados: Na revisão sistemática, foram incluídos 129 estudos. Desses, 27 para análise da precisão diagnóstica. Os testes moleculares para resistência à dapsona tiveram sensibilidade de 78,8% (IC95% = 65,6-87,9) e especificidade de 97,0% (IC95% = 94,0-98,6). Testes moleculares para resistência à rifampicina tiveram sensibilidade e especificidade de 88,7% (IC95% = 80,0-93,9) e 97,3% (IC95% = 94,3-98,8), respectivamente. Os testes moleculares para resistência a ofloxacino tiveram sensibilidade e especificidade de 80,9% (IC95% = 60,1-92,3) e 96,1% (IC95% = 90,2-98,5), respectivamente. No estudo transversal, 1.183 casos de hanseníase investigados para RAM no Brasil foram incluídos. No total, apenas 16 (1,4%) pacientes apresentaram mutações associadas à RAM. Desses, 8 (50%) foram em casos de recidiva de hanseníase, 7 (43,8%) em casos classificados como suspeita de falha terapêutica com tratamento padrão, e 1 (6,2%) era caso novo de apresentação de hanseníase. Mutações associadas à RAM foram encontradas para todos os três genes examinados (folP1, rpoB e gyrA). Dois pacientes apresentaram resistência simultânea à dapsona e à rifampicina, indicando resistência multidroga. Não foi identificada relação significativa entre variáveis clínicas e presença de resistência antimicrobiana. Conclusão: Apesar das diferenças entre os estudos incluídos na revisão sistemática, é possível afirmar que a sensibilidade e a especificidade dos testes moleculares são boas para detectar resistência aos principais antimicrobianos usados no tratamento da hanseníase e que a proporção de casos resistentes não aumentou significativamente após a introdução da PQT. No Brasil, evidenciaram-se baixa frequência de RAM na hanseníase, especificamente à rifampicina, a principal droga bactericida para hanseníase e a importância da PQT. No entanto, a maior frequência de RAM entre pacientes com recidiva no Brasil sustenta a necessidade constante do monitoramento.