Pandemia no Brasil, negacionismo e resistência : quem sobreviverá? : o caso de Camalaú-PB

Abstract

Os desafios enfrentados diante da pandemia por COVID-19 são bem conhecidos: sistema público de saúde em colapso; óbitos; estado social de enlutamento e medo do contágio; disputas ideológicas sobre o que fazer ou não para sobreviver. As formas de resistência e adaptação construídas pelas coletividades em todo o mundo são inegáveis, como podemos ver pela diversidade de vacinas, estratégias e protocolos de prevenção da saúde física, psicológica, financeira e social. Histórias de comunidades, até mesmo de países, que têm sobrevivido pelo respeito à coletividade e à ciência são muitas. Contudo, no Brasil vivemos uma realidade pandêmica marcada pelo negacionismo sociopolítico ao manejá-la. Por isso, a questão: Quem sobreviverá? Um município do Nordeste, em meio aos “Brasis”, tem demonstrado atos de sobrevivência. Diante dessa realidade, esta pesquisa objetivou analisar as estratégias de enfrentamento e as ações coletivas de Camalaú-PB e as dificuldades que emergiram da vivência da pandemia pela COVID-19. Para isso, foi realizado um estudo de caso que seguiu os princípios da abordagem qualitativa, reflexividade e interpretação. O percurso lógico seguido foi: Observar pelas "janelas virtuais": sondagem das redes institucionais virtuais (Instagram) de domínio público do município e entrevistas semiestruturadas com contato presencial e/ou remoto com os agentes e atores sociais do município (total de nove entrevistas), com foco na vinculação e no mapeamento da rede e construção da rede intersetorial, com base nos dados discursivos dos participantes e em um olhar sociométrico das narrativas de cada integrante da rede sobre com quem puderam contar no momento de crise. Os dados narrativos foram codificados através do software MAXQDA (2022) e analisados tematicamente (Braun & Clarke, 2006). Os resultados foram processados socionomicamente (Moreno, 1992; 1997) correlacionando com os entendimentos das teorias de redes (Almeida, 2015; Milanese, 2012; Rovere, 1999). Em respeito a complexidade do estudo de caso a pesquisa propõe diálogos com: o conceito de necropolítica (Mbembe, 2017), a ótica marxista (Costa & Mendes, 2020) e com outros teóricos que enxergam o fazer comunitário e social sob outros prismas como pela decolonialidade (Santos, 2020) e psicossociologia (Carreteiro, 2020). Com esta pesquisa foi possível ter contato com os impactos sociais (saúde, cultura, economia e mal-estar social) da vivência pandêmica, em contexto de negacionismo, por um povo do Cariri nordestino, que de bom grado apresentou suas vias de resistência pela potência da rede, revelando uma história que merece ser contada.