Estética das aparições em Diadorim : transgeneridade e imagens de assombro e fascínio em Grande Sertão: Veredas

Abstract

Esta tese propõe uma leitura da personagem Diadorim, da obra Grande sertão: veredas (1956), sob a perspectiva dos estudos de gênero. Entre seus objetivos está o de investigar as aparições de Diadorim na tensão entre as imagens de fascínio, encantamento, beleza, assombro, pavor e medo. Buscamos estabelecer aproximações entre uma dimensão mitopoética associada às questões abjetas, vinculadas aos aspectos do desejo homoerótico, e a dimensão da transgeneridade masculina: Menino, Reinaldo, jagunço, vestido de vaqueiro, personagem narrado na maior parte do romance como um homem. Identificamos em Diadorim a figura do encantamento e da repulsa, sentimentos distintos que conduzem Riobaldo ao confronto de sua própria sexualidade que é, por sinal, marcada pelo “regime da diferença sexual” (PRECIADO, 2020). As investigações teóricas da imagem empreendidas por Georges Didi-Huberman (1998; 2015), na esteira do pensamento de Walter Benjamin (2009) e Aby Warburg (2012; 2003), fundamentam a noção de aparição como revelação e ocultamento, proximidade e distância, bem como o entendimento da imagem enquanto movimento. De igual modo, relemos a tipologia de análise de Diadorim elaborada por Willi Bolle (2004), acrescentando uma quinta categoria. Para realização da pesquisa, adotamos uma postura fenomenológica de caráter aproximativo, crítico, aberto e reflexivo, por ser um método que lida com o problema da perspectiva que invoca o caráter de mutabilidade e relatividade da verdade. Utilizamos também a perspectiva estética pela via do imaginário para analisar as passagens em que Diadorim aparece no romance e na cultura. A ideia de gênero em Grande sertão: veredas é afetada pela desestabilização da ordem vinculada aos dimorfismos e binarismos, principalmente no que diz respeito à presunção de que o sexo corresponde ao gênero e à ideia de que o desejo sexual e erótico prescinde de uma correspondência entre homem e mulher. Guimarães Rosa lança a questão para o nível simbólico e imaginário, em que os elementos e os motivos: água, fluxo, terra, movimento, ar, neblina, voo e transcendência fundem-se na performance de Diadorim, correspondendo, assim, ao espaço ambíguo e intermediário, o que nos permitiu empreender aproximações com as noções queer e trans.