Cultura de paz na escola : práticas dialógicas e desenvolvimento da autonomia dos estudantes como mobilizadores da mudança

Abstract

Esta tese de doutorado buscou analisar os processos envolvidos na tentativa de implementação de um projeto de Cultura de Paz em uma escola de ensino fundamental localizada em uma região de baixa renda em Brasília. A análise ocorreu ao longo de dois anos, durante a tentativa de implementação do projeto. Nesse processo, a pesquisa deu foco à participação e ao desenvolvimento do grupo de estudantes nomeados pelo projeto como Mensageiros da Paz. Fundamentado na perspectiva da Psicologia Cultural, este trabalho faz uma leitura das dinâmicas simbólicas e relacionais, considerando a dialogicidade dos processos interativos, comunicativos e metacomunicativos que estão na gênese do desenvolvimento humano. A metodologia adotada foi qualitativa, que considera a construção epistemológica, sistêmica e dinâmica do conhecimento e a presença ativa do pesquisador, e se caracteriza pela interdependência entre os momentos do processo de pesquisa. Após aproximação da pesquisadora com o Projeto Vozes da Paz, desenvolvido pelo TJDF junto às escolas, foi selecionada uma interessada em desenvolver o projeto. A implementação do projeto na escola oportunizou o desenvolvimento de pesquisa-intervenção junto com os Mensageiros da Paz, adolescentes do sexto ao nono ano do ensino fundamental. O método de pesquisa incluiu a realização de cinco grupos focais realizados com os Mensageiros da Paz, que visavam à análise da cultura escolar e comunitária; e, depois, 12 encontros que permitiram a autorreflexão, participação ativa e autonomia dos estudantes. Os grupos focais e os encontros foram gravados em áudio, degravados na íntegra e analisados à luz da Psicologia Cultural. Os resultados indicaram a necessidade de resistir às canalizações culturais do sistema socioeconômico vigente, e promover práticas dialógicas como forma de melhorar a qualidade das relações escolares e favorecer o desenvolvimento da autonomia, da responsabilidade e cooperação entre os alunos. Outro aspecto destacado pelos resultados foi como as relações dialógicas podem substituir a cultura da punição e do controle como forma de possibilitar o desenvolvimento da autonomia, essencial para a construção permanente dos processos democráticos.