Concepções docentes sobre o Ensino Médio Integrado : sentidos contraditórios e fragmentação

Abstract

Na educação brasileira, ao longo da história, foi instituída uma dualidade estrutural entre a formação básica, especialmente entendida como meio de preparação para o ensino superior, e a formação profissional, que historicamente se restringiu ao mero adestramento dos jovens em técnicas produtivas. O Ensino Médio Integrado surge em contraposição a essa realidade, tendo como foco a formação integral dos sujeitos a partir das dimensões trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Porém, apesar de os documentos orientadores da proposta enfatizarem a necessidade de superação da dicotomia, ela ainda se faz bastante frequente nos cursos de Ensino Médio Integrado. Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo analisar os motivos que contribuem para a não efetiva integração entre educação científica e educação profissional em cursos de Ensino Médio Integrado. Para tanto, foram utilizados como procedimento de coleta de dados: entrevistas semiestruturadas com professores das chamadas Ciências da Natureza e com aqueles que atuam especificamente nas disciplinas da formação técnica em Institutos Federais situados em diferentes regiões do país, e os planos de ensino dos respectivos componentes curriculares por eles ministrados. Os dados obtidos nas entrevistas de dez professores foram analisados à luz da Teoria Fundamentada de Dados, e a análise dos planejamentos de ensino foi feita a partir da Teoria da Atividade. Como resultados, identificou-se um desconhecimento por parte dos docentes quanto ao significado do Ensino Médio Integrado e às dimensões trabalho, ciência e tecnologia. Em relação à palavra integrado, são assumidos sentidos contraditórios que vão desde a ideia de somatório à inter-relação entre conhecimentos, além de manterem o mito do dualismo entre formação para o mundo do trabalho e para continuidade nos estudos. O trabalho é entendido em uma perspectiva reducionista, assumido como emprego. Em relação à ciência e à tecnologia, foram identificados olhares que promovem o distanciamento entre os saberes técnicos e os saberes relativos às ciências da natureza, atribuído às disciplinas de formação básica a responsabilidade de ensinar conhecimentos científicos, e às de formação técnica, o propósito de aplicá-los. Considerando a análise dos planos de ensino, observou-se que não há definição de objetivos claros, sendo eles ora bastante amplos, impossibilitando o reconhecimento das ações e dos conhecimentos necessários a serem apropriados para alcançá-los, ora não muito claros, se referindo à atividade do docente e não ao que se espera dos estudantes. Considerando a análise realizada, no âmbito dos cursos de formação inicial e continuada de professores, defendemos a necessidade de reconhecimento do Ensino Médio Integrado e de serem viabilizados espaços de formação permanente para o corpo docente, de modo a fomentar estudos sobre a proposta, a compreensão do seu significado, a promover diálogos sobre possibilidades de integração e a repensá-lo considerando a realidade da comunidade. Sugerimos ainda uma proposta alternativa de planejamento a ser realizada de maneira dialógica entre os docentes, de modo a possibilitar uma construção coletiva de objetivos de ensino e favorecer a integração.