Avaliação da ocorrência de semelparidade em Gracilinanus agilis (Didelphimorphia, Didelphidae) por meio do uso de marcadores moleculares do tipo microssatélites

Abstract

Os animais podem apresentar estratégias reprodutivas que permitem classificá-los em um gradiente que varia de espécies semélparas a espécies iteróparas. As espécies semélparas geralmente se reproduzem uma única vez e se encontram no extremo “rápido” desse gradiente, sendo normalmente organismos com menor longevidade e alta fecundidade. A semelparidade é uma estratégia evolutiva rara em vertebrados, porém ocorre em marsupiais das famílias Didelphidae (americanos) e Dasyuridae (australianos). Gracilinanus agilis, um marsupial didelfídeo, apresenta fortes evidências para existência da semelparidade, a partir de

estimativas de sobrevivência pós-reprodutiva baseadas no método de captura-marcação- recaptura e em parâmetros fisiológicos. O presente estudo teve como objetivo avaliar a

ocorrência da semelparidade em G. agilis através do uso de marcadores moleculares do tipo microssatélites em uma população existente em uma área de Cerrado do Distrito Federal. Para isso, isolamos e caracterizamos 15 locos de microssatélites para a espécie, usando sequenciamento de alto rendimento com a plataforma Illumina (capítulo 1). Destes, 12 foram efetivamente utilizados para realizar testes de parentesco genético e atribuição de paternidade/maternidade entre indivíduos ao longo de diferentes estações reprodutivas e, com isso, caracterizar a ocorrência da semelparidade em G. agilis (capítulo 2). Nossos resultados sugerem que os machos dessa população apresentam semelparidade obrigatória, podendo ocorrer exceções ao longo dos anos, enquanto que as fêmeas apresentam semelparidade parcial, com algumas podendo sobreviver e se reproduzir na próxima estação reprodutiva. A plasticidade na estratégia reprodutiva evidenciada em nosso trabalho e quando analisada em conjunto com os resultados de outros estudos, nos permite classificar G. agilis como uma espécie que apresenta semelparidade facultativa. Na semelparidade facultativa há uma variação nas taxas de sobrevivência/mortalidade ao longo dos anos em diferentes populações: em alguns anos e em algumas populações a morte total dos indivíduos pode ocorrer, assim como em outros uma pequena parcela dos indivíduos pode sobreviver e participar do próximo evento reprodutivo. As diferenças nos números de indivíduos que sobrevivem podem estar relacionadas com fatores como disponibilidade e abundância de alimento, qualidade dos habitats, sincronia na fertilidade dos indivíduos, além da seleção evolutiva, na qual influenciam o custo da reprodução em troca da sobrevivência e sucesso reprodutivo. Porém, estudos mais detalhados precisam ser feitos para entender as relações entre esses fatores e a mortalidade dos indivíduos. Nosso estudo é útil para preencher lacunas ainda existentes sobre a biologia reprodutiva da espécie e reforça a importância da realização de análises genéticas junto com

estudos de dinâmica populacional e fisiologia para avaliar as estratégias reprodutivas em pequenos mamíferos.