Poética da Enunciação do Psicanalista - Escritura, Mimese, Humor Dialógico : propostas para a Técnica Interpretativa

Abstract

Por que um cientista da medicina como Freud recorreu tanto e tão frequentemente a exemplos e citações de homens da literatura para criar sua terapêutica? Para um neurologista em fins do século XIX às voltas com a saúde mental da burguesia vienense, este recurso, no mínimo original, tem um sentido de orientação para o raciocínio clínico que tratamos de explorar. Procura-se fundamentar uma poética, um fazer literário na terapêutica do psicanalista, atentando às características de sua enunciação. O reconhecimento deste fazer, crê-se, é capaz de esclarecer e nuançar uma topologia das vias de pensamento que temos hoje ao alcance da interpretação psicanalítica. Não se trata de aperfeiçoar os fundamentos da técnica psicanalítica. Pretendemos, sim, apontar caminhos para a direção da intervenção terapêutica a partir do enriquecimento metafórico advindo do cotejamento entre psicanálise e estudos literários. Fazendo valer a equivalência entre a intervenção pela fala – instrumento do psicanalista – e a literatura ficcional, propomos visadas sobre a interpretação em psicanálise a partir da teoria da escritura em Walter Benjamin; da poética aristotélica e da via socrática dos estudos bakhtinianos do humor.