O Cômico, o Trágico e o Tragicômico : um ensaio em Psicanálise e Psicologia Analítica

Abstract

A proposta deste ensaio é discutir o cômico, o trágico e o tragicômico a partir das perspectivas da psicanálise e da psicologia analítica. Primeiramente realizamos algumas reflexões a respeito do gênero aqui utilizado para a escrita, qual seja, o ensaio. Comentaremos a respeito da história e das características desse gênero literário, sua relação com a psicanálise e a possibilidade de seu uso acadêmico. Em seguida, entraremos na seção dedicada ao cômico. Veremos o cômico e o chiste a partir de Freud, com base em sua obra os chistes e sua relação com o inconsciente (1903), como muitos dos efeitos do chiste e do cômico apenas são possíveis por meio da linguagem, adaptamos os exemplos germânicos de Freud para outros mais próximos da realidade brasileira. Após isso, temos uma breve introdução à vida e alguns conceitos fundamentais do pensamento de Carl G. Jung- notadamente as noções de arquétipo e de inconsciente coletivo- para logo tentarmos ver a manifestação do cômico no arquétipo do Trickster. A segunda seção tratará do trágico, novamente dividido em dois capítulos, um para psicanálise e outro para psicologia analítica. Começando pela visão psicanalítica, temos um breve apanhado da tragédia na literatura e na filosofia para iniciarmos uma discussão mais detalhada do seminário 07 de Lacan, especialmente a sua leitura da Antígona, de Sófocles, tratamos de tópicos como Atrocidade do Desejo, Finda-linha e a Queixa de Antígona. Por outro lado, tratando de psicologia analítica, buscamos ver uma concepção junguiana do trágico a partir de sua polêmica obra resposta a Jó e em que medida existiria ali uma maneira de se perceber o sofrimento e o desespero. Por fim, temos a seção dedicada ao tragicômico. Sob a lente da psicanálise, verificamos a possibilidade de um conceito de tragicômico em dois ensaios de Freud, o Humor (1927) e o inquietante (1919), levando em consideração, sobretudo, as noções de dinâmica da energia psíquica, grotesco, angústia e repressão. Com a psicologia analítica, utilizamos a teoria da quaternidade- sobretudo na forma como Jung a desenvolve em AION: ensaios sobre o simbolismo do si mesmo- e o conceito alquímico de junção dos opostos, coniunctio oppositorum, para defender a ideia de que o tragicômico é bem mais do que um terceiro gênero resultante da união de outros dois anteriores. Ele possui quase uma dinâmica energética própria, a qual pode gerar transformações e revela que ele guarda outros gêneros ocultos, latejando dentro de si.