Candidíase vulvovaginal e perspectivas atuais : sintomas, diagnóstico laboratorial, prevalência das espécies, resistência à antifúngicos, novos fatores de risco associados e avaliação da recorrência

Abstract

A candidíase vulvovaginal (CVV), é uma infecção genital comum, cujos sintomas causam grande desconforto, limitando a qualidade de vida das mulheres. É a segunda causa de infecção genital no menacme e sua prevalência não é fidedigna na literatura. A Candidiase Vulvovaginal Recorrente (CVVR) é caracterizada por 4 ou mais episódios de CVV em 12 meses. A maior parte das infecções tem com agente etiológico C. albicans, entretanto há um aumento de espécies não albicans. O tratamento de escolha são os azólicos, dados apontam resistência de Candida a estes antifúngicos. O objetivo deste estudo foi investigar clínica e laboratorialmente casos de CVV enumerando os principais sintomas e fatores de risco associados, e as espécies de Candida spp. isoladas. Para obtenção dos dados, as pacientes foram entrevistadas com as perguntas do questionário de Sintomas e Fatores de Risco, e um swab vaginal foi coletado. Foram incluídas 278 pacientes, do Ambulatório de Ginecologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), divididas em dois grupos: sintomáticas (n = 173) e assintomáticas (n = 105). As espécies de Candida foram identificadas por métodos fenotípicos e presuntivos, e confirmadas por espectrometria de massa Matrix Assisted Laser Desorption Ionization Time-of-flight (MALDI-TOF). O perfil de sensibilidade das espécies de Candida frente ao fluconazol foi determinado por antifungigrama automatizado, e a identificação de fatores de risco (FR) associados à candidíase por dados do questionário, correlacionados com resultados laboratoriais. Quanto aos sintomas de candidíase (corrimento, prurido e ardência), 50,3% dos pacientes relataram-nos concomitantemente, apresentando Valor Preditivo Positivo (VPP) de 67,8%. Em relação aos FRs, houve correlação entre candidíase e anticoncepcional, alergia respiratória, protetor diário de roupa íntima, consumo de leite e trânsito intestinal, sendo os dois últimos, novos FRs relacionados à disbiose vaginal e intestinal. O teste MALDI-TOF identificou na maioria das amostras (80,9%) C. albicans e em 15,2% das amostras foram identificadas as espécies não albicans: C. glabrata, C. parapsilosis, C. tropicalis, C. krusei, C. zeylanoide e mais 1,0% Rhodotorula mucilaginosa e uma espécie de Candida não foi identificada. Na comparação entre os métodos fenotípicos e presuntivos com MALDI-TOF, a sensibilidade média foi superior a 70,0% e a especificidade superior a 90,0% em ambos. Na avaliação da recorrência das pacientes sintomáticas 88 referiram CVVR, destas 41 (44,5%) apresentaram resultados positivos. Nessas 41 pacientes, uma primeira coleta foi realizada, e 21 permaneceram positivas, na sequência, uma segunda coleta foi realizada em 6 pacientes ainda positivas, a taxa de recorrência com diagnóstico foi 28,6%, e a prevalência de espécies na CVVR foi 66,7% C. albicans e 33,3% não albicans. Foram realizados antifungigrama em 69,6% das amostras, entre as espécies testadas 82,0% foram sensíveis ao fluconazol, 6,5% resistentes e 1,1% apresentaram Sensibilidade Dose Dependente (SDD). O estudo possibilitou a identificação precisa das espécies de Candida, o perfil de sensibilidade ao fluconazol, a recorrência da CVV com diagnóstico laboratorial, comprovando que: a presença de sintomas tem baixo VPP para o diagnóstico clínico de candidíase, que novos FR podem estar associados, e que o diagnóstico laboratorial é importante para o manejo clínico da CVV.