Ensino de ciências na perspectiva multicultural : uma proposta de atuação com estudantes indígenas de uma escola pública do DF

Abstract

Este trabalho apresenta análises, discussões e resultados a respeito da presença de estudantes indígenas nas salas de aula de uma escola pública de ensino regular, bem como a importância de se reestruturar o ensino de Ciências de maneira a considerar a cultura e a identidade desses estudantes. Procura-se compreender em que medida uma proposta de ensino desenvolvida com estudantes indígenas pode favorecer o ensino de Ciências. Parte-se da hipótese de que uma pesquisa teórica aprofundada e um trabalho de interação podem fomentar dados que norteiem a elaboração de um material didático para o ensino de Ciências a estudantes indígenas e não indígenas. Com vistas à estruturação desse material, busca-se fazer uma revisão de literatura especializada no ensino de Ciências e educação indígena, nos marcos históricos legais dos povos indígenas e nas dimensões intercultural e multicultural da educação. Em seguida, é realizada uma visita à escola pública regular do DF com maior número de indígenas matriculados no ensino médio, cinco dos quais participaram de entrevista e atividades científicas diversas, com o intuito de se mensurar o conhecimento que possuíam a respeito do fazer científico e de se investigar como acontece o processo de adaptação deles em uma escola de cultura distinta. Os procedimentos metodológicos utilizados neste trabalho seguiram os pressupostos da pesquisa qualitativa, com base na pesquisa participativa. As ações desde estudo ocorreram em quatro fases: identificação do problema, planejamento da ação, execução e avaliação dos dados. Os instrumentos utilizados para construção dos dados foram: entrevista semiestruturada, gravador e diário de campo. Os dados obtidos foram analisados com base nas postulações de R. Barbier (2002) e E. Pereira (2001). Como referencial teórico utilizamos, entre outros autores, Santos et al. (2015), que aborda a necessidade de se aprender Ciências para obtenção de uma visão reflexiva e crítica; M. Bergamaschi (2015), o qual apresenta um panorama histórico da educação indígena no Brasil; L. Vigotski (2011), que defende a abordagem sociointeracionista e explica a importância da cultura do estudante em sua educação; Z. Baumam (2005), o qual disserta a respeito da forma como a cultura é apropriada por um indivíduo e faz parte da sua vivência e R. Fleuri (2003) e C. Walsh (2009), os quais explicam as características e a importância do ensino multicultural. Os dados obtidos tanto nas entrevistas com os profissionais da escola quanto nos diálogos e atividades com os estudantes indígenas evidenciaram uma necessidade de preparo técnico desses profissionais em relação à adaptação e acolhimento de indígenas pela escola. Verificamos que a abordagem do ensino de Ciências em sala de aula, cujos livros didáticos são elaborados exclusivamente para estudantes da “cultura ocidental”, necessita de reformulação, com vistas a uma abordagem multicultural de ensino, para a plena compreensão do conteúdo e a inclusão de estudantes indígenas em escola regular. Dessa forma, os resultados obtidos mediante este processo demonstram que o estudo multicultural de Ciências pode ser uma estratégia facilitadora no processo de ensino e aprendizagem em uma classe formada por estudantes de diferentes culturas.