Efeito da queimada na estabilidade de agregados, na resistência ao selamento superficial e na taxa de infiltração de água em solos de cerrado

Abstract

O bioma Cerrado cobre uma área aproximada de 200 milhões de hectares no Brasil. Nesta região, o clima é sazonal, caracterizado por um período seco, que favorece a alta freqüência das queimadas, e um período chuvoso. As queimadas causam importantes modificações no ecossistema, inclusive no seu ambiente edáfico. Apesar das propriedades físicas e químicas do solo terem grande influência na vegetação e nos processos importantes no funcionamento destes ecossistemas, os efeitos de queima na modificação das propriedades do solo foram pouco investigados. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de queima sobre as propriedades do solo em três fitofísionomias do cerrado para testar as hipóteses de que a queimada diminui a estabilidade dos agregados do solo, contribui para o aumento do selamento superficial causado pela chuva e diminui a taxa de infiltração de água no solo. Foram analisados solos sob campo sujo, cerrado denso e cerrado sensu stricto submetidos a regimes de queima de dois em dois anos (bienal) e de quatro em quatro anos (quadrienal), por um período de dez anos. Os tratamentos de queimadas bienais incluíram queimadas no início (bienal precoce), no meio (bienal modal) e no final (bienal tardia) da estação seca. As queimadas quadrienais foram realizadas no meio de estação seca. Este estudo foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE, no Distrito Federal, nas parcelas experimentais do projeto de pesquisa, “Efeito de diferentes regimes de queima sobre a estrutura e dinâmica de comunidades do cerrado”. As amostras de solo para análises foram retiradas de três perfis em cada parcela nas profundidades de 0-5, 5-10, 10-15, 15-20, 20-30 e 30-40 cm, em abril de 2000. Foram realizadas análises de estabilidade de agregados, textura, densidade do solo e de partículas, porosidade, argila dispersa em água e teor de carbono orgânico. A taxa de infiltração de água no solo foi medida de quinze em quinze minutos por um período de duas horas, utilizando-se de infiltrômetros de cilindros concêntricos. Para induzir a formação do selamento superficial foi utilizado um simulador de chuva e para avaliar o selamento superficial foram feitas medidas de infiltração antes e depois da chuva. As últimas queimas foram realizadas nas parcelas de queima bienal nos meses de junho a setembro de 2000 e nas parcelas de queima quadrienal em agosto de 1999. As medições de infiltração foram realizadas entre agosto de 2000 e março de 2001. Os solos das parcelas das fitofísionomias do cerrado denso e cerrado sensu stricto foram Latossolo Vermelho Escuro. As parcelas de campo sujo apresentaram Latossolo Vermelho Escuro e Latossolo Vermelho Amarelo. Todos os solos apresentaram textura argilosa e o teor de argila dispersa variou entre 102 g kg'1 e 382 g kg'1 do solo. Os valores da densidade de solo variaram entre 0,73 g c m 3 e 0,86 g cm'3 e vi a porosidade entre 69% e 73%. O teor de carbono orgânico variou entre 1,53% e 2,24%. A queima da vegetação, de modo geral, aumentou a estabilidade dos agregados. Na fitofisionomia de campo sujo, a parcela com queima de quatro em quatro anos apresentou o valor médio de 2,88 mm de diâmetro médio ponderado dos agregados e as parcelas de queima bienal e sem queima apresentaram valores de 2,79 mm. Os maiores valores do diâmetro médio ponderado apresentados no cerrado denso (2,85 mm) e no cerrado sensu stricto (2,88 mm) foram das parcelas com queimas bienais. A taxa de infiltração diminuiu com o aumento da freqüência das queimas nas três fitofisionomias. No campo sujo a maior taxa de infiltração de 114 cm h'1 foi registrado na parcela sem queima e a menor taxa de 59 cm h '1 na parcela com queima bienal tardia. No cerrado sensu stricto a parcela com queima quadrienal apresentou a taxa de 102 cm h 1 e a parcela com queima bienal de 96 cm h'1. Nas parcelas do cerrado denso o tratamento sem queima apresentou taxa de infiltração de 201 cm h '1 e a bienal tardia de 182 cm h '1. O regime de queima não alterou a formação de selamento superficial no solo do campo sujo. Nas parcelas de controle, queima bienal e queima quadrienal a redução média da taxa de infiltração após a indução do selamento superficial foi de 33%.