Coping religioso/ espiritual : vivências de familiares de crianças e adolescentes com câncer

Abstract

A família é um sistema aberto, que se mantém em constante evolução dentro do processo de adaptação às exigências ambientais internas e externas. Em situações de estresse que envolvem doença grave, o familiar cuidador utiliza-se da fé, espiritualidade e religiosidade para enfrentar os longos períodos de tratamento e suas consequências. A estratégia de enfrentamento por meio da fé, espiritualidade e religiosidade é denominada de Coping Religioso/Espiritual (CRE) e seu principal objetivo é auxiliar o familiar a encontrar suporte para adaptar-se ao estresse e ao controle das emoções negativas. OBJETIVO: Analisar o uso do coping religioso/espiritual de familiares cuidadores de crianças e adolescentes com câncer em tratamento quimioterápico. MÉTODO: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo de método misto, realizado em um hospital pediátrico do Distrito Federal, que atende a população infanto-juvenil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A coleta de dados foi realizada entre os meses de março a julho de 2017, em duas fases, por meio da aplicação do questionário sociodemográfico, seguido da escala de coping religioso/espiritual (escala CRE) e finalizada pela entrevista semi-estruturada. Os dados quantitativos foram analisados por associação de variáveis com teste qui-quadrado e pelo cálculo dos índices que compõem a escala CRE. Os dados qualitativos foram obtidos por meio da análise de conteúdo com auxílio do software IRAMUTEQ. RESULTADO: Participaram do estudo na fase quantitativa 63 familiares cuidadores, cujo perfil era sexo feminino, mãe, casada, com ensino médio completo, evangélica , com idade entre 31 e 40 anos. A escala apresentou os seguintes valores: CREtotal: 3,7 que indica uma utilização com alta intensidade da estratégia de CRE, CREPositivo: 3,4, apontando para o emprego em média intensidade; CRENegativo: 2,0, utilização em baixa intensidade; Razão CREN/CREP: 0,6 com discreto direcionamento do coping para as estratégias negativas. Na segunda fase, a análise de conteúdo das entrevistas desvelou o impacto inicial, manisfestado pelo mecanismo de negação da realidade diante da confirmação do diagnóstico e da consequente quimioterapia. As vivências do familiar cuidador, durante a quimioterapia, apresentaram-se organizadas em dois eixos e cinco classes. Eixo 1- O processo de desorganização familiar frente ao câncer , esse eixo foi composto por: classe 1: situações modificadoras da rotina familiar, 20,3%; classe 5: Medo do tratamento, 22,8%; classe 4: Enfrentamento do tratamento, 18,8%. Eixo 2- Coping Religioso/Espiritual, composto por: classe 3: Resposta ao estresse da experiência, 21,9%; classe 2: A ressignificação da experiência, 21,9%. CONCLUSÃO: A compreensão do processo da vivência do familiar cuidador diante dos desafios impostos pela doença e tratamento quimioterápico, desvelou que, o enfrentamento da situacão com a utilização do CRE, auxiliou a ressignificar a experiência de adoecimento. Nesse sentido, o evento permitiu ainda, o crescimento espiritual do familiar e exerceu um importante papel no controle de suas emoções negativas.