Corporocracia : a captura corporativa do Estado

Abstract

A presente tese tem como objeto de análise a captura corporativa do Estado, aqui conceituada como corporocracia, entendida como o conjunto articulado de processos, práticas e dispositivos por meio dos quais grandes corporações influenciam, de forma sistemática, as estruturas estatais, a formulação de políticas públicas e os marcos regulatórios, orientando-os conforme seus interesses econômicos e simbólicos. Fundamentada no método do materialismo histórico-dialético, a investigação realiza uma análise teórico-crítica da corporocracia enquanto forma atual de exercício do poder capitalista, concebendo-a como um fenômeno simultaneamente material e simbólico, histórico e estrutural. A pesquisa concentra-se nas dinâmicas entre corporações e Estado, evidenciando como os ideários corporativos se sobrepõem ao interesse público, promovendo uma racionalidade orientada pela acumulação de capital. Para tanto, adota-se uma abordagem documental e bibliográfica, combinando análise de fontes primárias (leis, decretos, pareceres e estatutos institucionais) com obras teóricas de referência. Utiliza-se, ainda, a Análise Crítica do Discurso (ACD), com base em Bakhtin e Fairclough, a fim de examinar os mecanismos ideológicos de legitimação da dominação corporativa. A análise é guiada por cinco categorias fundamentais: a mais-valia, o capital, a ideologia, o Estado e a própria corporocracia — proposta aqui como categoria inédita de análise, que expressa a fusão entre interesses corporativos e estruturas estatais em um arranjo de poder hegemônico. Ao final, a tese revela como a corporocracia se constitui como uma racionalidade sistêmica no capitalismo contemporâneo, que fragiliza a democracia, intensifica a desigualdade e legitima a subordinação do bem-estar coletivo à lógica da acumulação.