Caldeirão da Santa Cruz do Deserto : o seu legado para os camponeses e análise da narrativa da imprensa cearense no seu processo de destruição

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar o legado do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (1926-1936), para a classe camponesa, em especial do Cariri cearense. Esse leagado se manifesta na ocupação das terras do Caldeirão, em 1991, por camponeses de diversos lugares do Cariri, organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que resultou na formação do Assentamento 10 de Abril em terras vizinhas. A pesquisa também aborda as Romarias do Caldeirão, celebrações político-religiosas, organizadas anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde o ano 2000. Essas romarias tem o intuito de manter viva a memória do Caldeirão e do massacre ocorrido em 1936, quando a polícia, a mando do Estado, invadiu o sítio e o destruiu, classificando-o como local de “fanáticos”, “comunistas”. As romarias são uma prova do legado do Caldeirão, tendo sido reconhecidas pelo estado e incluidas no calendário de eventos oficiais desde o ano 2022. Em relação ao estudo da imprensa, os jornais O Povo, O Nordeste e O Estado (1934-1938), demonstrou que, alinhada aos ideais das classes dominantes, contribruiu para legitimar a destruição do sítio. O fato é que, apesar de toda perseguição e do silenciamento que perdurou por décadas, não foi possível apagar o Caldeirão da memória de milhares de camponeses que veem no Betao José Lourenço e no Caldeirão um legado para suas lutas. Atualmente o Estado e a Igreja, não mais retratam o local como tendo práticas duvidosas, mas sim como um lugar de exemplo e de legado. Para tanto, as fontes utilizados incluem jornais conseguidos através da Hemeroteca Digital, Cartazes-convites das romarias e fotografias. O aporte teórico se centra no estudo da representação a patir de Stuart Hall (2016) e da retórica com Chaïm Perelman (2002).