Prevendo os impactos das mudanças climáticas na distribuição das espécies de plantas de vereda das áreas úmidas do Cerrado brasileiro

Abstract

A crise climática em curso está reconfigurando ecossistemas globalmente, com as áreas úmidas entre as mais vulneráveis devido à sua sensibilidade às mudanças hidrológicas e ao aumento da temperatura. As veredas, áreas úmidas exclusivas do Cerrado brasileiro, desempenham um papel crítico na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos, mas enfrentam crescentes ameaças provenientes de mudanças no uso da terra e no clima. Apesar de sua importância ecológica, a resposta das espécies de vereda às mudanças climáticas ainda é pouco compreendida. Este estudo avaliou as mudanças potenciais na distribuição de 24 espécies-chave de plantas de vereda sob dois cenários climáticos (SSP2-4.5 e SSP5-8.5) para o período de 2061-2080. Utilizando 19 variáveis bioclimáticas do WorldClim e o modelo MPI-ESM1-2-HR, foram gerados Modelos de Distribuição de Espécies (SDMs) com nove algoritmos do pacote ‘biomod2’ no R. A avaliação dos modelos foi realizada por meio das métricas de sensibilidade e especificidade da Curva ROC e da estatística TSS. Os resultados indicaram alta confiabilidade dos modelos, com sensibilidade média de 86,83 ± 10,03 e especificidade média de 87,59 ± 7,45. Treze das 24 espécies apresentaram perda de áreas adequadas, com o nordeste do Cerrado projetado para as maiores perdas, e expansões observadas na fronteira sul com a Mata Atlântica. A espécie Desmoscelis villosa teve as maiores perdas, enquanto Xyris tortula demonstrou ganhos. A sobreposição das áreas adequadas diminuiu, sugerindo deslocamentos e fragmentação. Este estudo destaca que as mudanças climáticas podem remodelar a distribuição das espécies de vereda, com perdas predominantes, e reforça a necessidade de estratégias de conservação que integrem mudanças climáticas, uso da terra e áreas protegidas.