Dinâmica sucessional de áreas em restauração por semeadura direta no Cerrado- desafios e lições aprendidas após 12 anos de pesquisas

Abstract

Comunidades vegetais são naturalmente dinâmicas e suas trajetórias frequentemente imprevisíveis. Por isso, monitoramento e manejo a longo prazo são essenciais para garantir que projetos de restauração sigam uma trajetória desejada, especialmente em ecossistemas que estão presos em estados alternativos. Esse é, frequentemente, o caso de savanas neotropicais degradadas e dominadas por gramíneas exóticas invasoras (IEG, na sigla em inglês). O desenvolvimento de métodos e informações sobre a restauração de ecossistemas de dossel aberto é urgente para a inclusão desses ecossistemas nas prioridades globais e regionais. No Cerrado, a savana mais biodiversa do mundo, os esforços de restauração focados em ecossistemas abertos são raros, tendo aumentado nos últimos 10 anos. Nesse estudo, coletamos dados da comunidade de 22 áreas de restauração no Brasil central e em três áreas nativas de referência em 2022 e 2024. Além disso, compilamos dados de cobertura vegetal, densidade e abundância de indivíduos de espécies lenhosas dos últimos doze anos para avaliar a trajetória das áreas. Observamos que os métodos atuais de restauração são eficazes para o estabelecimento de espécies nativas em uma comunidade que segue uma trajetória desejada, com substituição de espécies de crescimento rápido para lento, nos anos subsequentes à restauração. A semeadura direta foi capaz de estabelecer tanto diversidade de espécies quanto cobertura por gramíneas nativas próximas às dos locais de referência nativos, já nos primeiros anos. O sucesso da restauração variou e foi influenciado pelas condições do solo, pela cobertura da paisagem por IEG e pelo manejo das gramíneas invasoras pós-semeadura. As trajetórias foram prejudicadas pelas IEGs, que recuperaram sua dominância em todos os locais, exceto naqueles com baixa fertilidade do solo e alta acidez ou nas áreas com controle químico das IEGs. Por fim, incêndios tardios não pareceram prejudicar as trajetórias de restauração nem favorecer a dominância das IEGs.