A dimensão subjetiva da ação de mulheres catadoras em novo contexto socioprodutivo : contribuições da teoria cultural-histórica da subjetividade

Abstract

O objetivo central da pesquisa foi compreender como a inter-relação entre o social e o individual constitui a configuração subjetiva da ação de mulheres catadoras. Como ponto de partida, realizouse uma revisão da produção científica sobre a temática do social no contexto da Psicologia Social Crítica Latino-Americana e na Teoria da Subjetividade, em que se identificaram aproximações com a temática de pesquisa orientada à abertura de novos focos de exploração. Em relação ao aporte teórico, fundamentou-se na Teoria da Subjetividade, na perspectiva cultural-histórica, em particular na categoria configuração subjetiva da ação, como via compreensiva da ação configurada em nível individual e social, e da configuração subjetiva social do trabalho da catação, como via compreensiva dessa ação configurada na subjetividade social de uma instituição de catadores de materiais recicláveis, sob regime de uma cooperativa. Em congruência ao referencial teórico a pesquisa orientou-se pelos princípios da Epistemologia Qualitativa e suas expressões na Metodologia Construtivo-Interpretativa para o estudo dos casos de mulheres catadoras, seu grupo constituído por dez mulheres e uma cooperativa da qual estavam vinculadas. A construção da informação apoiou-se nos seguintes procedimentos e instrumentos de pesquisa: análise documental; observação participante; complemento de frases; dinâmicas conversacionais individuais e em grupo; construção de um livro; sessões fotográficas. A partir da realização da pesquisa as conclusões versam sobre: a) a configuração subjetiva da ação como via de representação teórica à compreensão das inter-relações entre subjetividade individual e subjetividade social; b) a ação, como configuração motivacional, em nível individual e social, evidenciando a emergência do sujeito e do agente em contextos e processos de desigualdade social; c) a catação, ação concomitantemente configurada, no âmbito da subjetividade individual e da subjetividade social, evidenciando o caráter gerador e subversivo da mulher catadora e de seu grupo, constituído por contradições perante as desigualdades sociais vividas historicamente em outros contextos. Com base nas construções apresentadas, defende-se tese de que a configuração subjetiva da ação de mulheres catadoras se constitui subjetivamente, em nível individual e social, pelo modo como a configuração subjetiva da ação e uma configuração subjetiva social da instituição – o trabalho de catação – constituem-se como configuração motivacional tanto para a pessoa quanto para o grupo, possibilitando evidenciar a emergência do sujeito e do agente em contextos e processos de desigualdades sociais.