Vozes feministas camponesas populares na soberania alimentar dos povos : agendas políticas para alimentação saudável com mulheres em movimentos sociais no Brasil e na Argentina

Abstract

A presente tese é uma pesquisa social interdisciplinar e histórico-comparativa sobre o tema da soberania alimentar dos povos na perspectiva da luta social feminista, camponesa e popular empreendida por mulheres organizadas em movimentos sociais no campo, contribuindo para a construção de políticas públicas para o direito humano à alimentação e nutrição adequada e saudável (DHANA), para a segurança alimentar e nutricional (SAN) e para o acesso à terra e agroecologia, no Brasil e na Argentina. Problematiza-se que, durante as primeiras décadas do século XXI, estes países lograram baixos índices de subnutrição e insegurança alimentar, porém, constatou-se também uma reversão neste cenário, impactando, sobretudo, a saúde das mulheres rurais e se agravando no contexto da pandemia de Covid-19. Portanto, busca-se interpretar as tendências estruturais que incidiram neste acontecimento na região latinoamericana, a partir das experiências de vida das mulheres em movimentos sociais no campo e de seus processos sociais de construção de agendas políticas para alimentação e para outros temas com os quais esta pauta dialoga. Assim, empreende-se uma análise documental de relatórios e bases de dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e de publicações de movimentos sociais. Em sequência, desenvolve-se uma abordagem qualitativa com a sistematização e análise de conteúdo de dezesseis entrevistas realizadas por meio de questionário semi-estruturado, envolvendo oito mulheres no Brasil e oito mulheres na Argentina que participam de ações e organizações parceiras ou integrantes junto à Coordenadora Latino-Americana de Organizações do Campo (CLOC) e à La Vía Campesina (LVC) nos países estudados - tendo em vista o protagonismo destas articulações internacionais na construção política da soberania alimentar dos povos em escalas local/ comunitária, nacional, e internacional. Por fim, esta tese busca contribuir para novas teorias, práticas e metodologias junto ao pensamento social crítico latino-americano e às Ciências Sociais, refletindo sobre a dimensão da alimentação como trabalho e apontando para a existência do internacionalismo nas vozes feministas camponesas populares em luta social por soberania alimentar dos povos. Conclui-se que, ao se contraporem às desigualdades da sociabilidade capitalista, patriarcal, racista e imperialista, as lutadoras sociais feministas camponesas populares enfrentam a imbricação entre divisões social, racial, sexual e internacional do trabalho, cultivando novas relações socioambientais e novas relações internacionais em defesa da vida.