Ateromas calcificados de carótida e marcadores de osteoporose em radiografias panorâmicas : um estudo comparativo

Abstract

Com o envelhecimento da população mundial, há um aumento na incidência de doenças crônicas, como osteoporose e acidentes vasculares cerebrais. Essas doenças representam grandes desafios para a saúde pública devido à morbidade, mortalidade e altos custos associados às internações. Os cirurgiões-dentistas podem auxiliar no rastreamento de pacientes com maior risco dessas doenças por meio de radiografias panorâmicas. Essas radiografias, realizadas rotineiramente na prática clínica, podem identificar ateromas calcificados na carótida e reabsorções na cortical inferior da mandíbula. A identificação dessas alterações pode ser um instrumento auxiliar na identificação de pacientes com maior risco de doenças cardiovasculares e osteoporose, respectivamente. Estudos indicam a possibilidade de ocorrência concomitante dessas alterações, sugerindo mecanismos fisiopatológicos semelhantes. Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho é investigar a associação entre presença de ateromas calcificados na carótida e erosão na cortical inferior da mandíbula em radiografias panorâmicas. Como objetivos específicos, foi determinada a prevalência desses ateromas em radiografias de pacientes atendidos no Hospital Universitário de Brasília (UnB). Tratase de um estudo transversal. Inicialmente, foi avaliado o banco de dados do HUB, composto por 19.205 radiografias. As imagens com suspeita de ateroma foram selecionadas por um cirurgião-dentista capacitado na identificação dessa condição em radiografias panorâmicas. Casos duvidosos foram revisados e desacordos solucionados por um especialista em radiologia odontológica. Foi criado um banco de imagens com suspeitas de ateromas calcificados na carótida. A prevalência foi calculada pela razão entre radiografias que apresentavam calcificações e total de radiografias no banco de dados do HUB. Radiografias panorâmicas sem ateroma foram selecionadas do banco de dados inicial, formando um grupo controle pareado por idade com o grupo com ateroma. O cirurgião-dentista também foi treinado para avaliar a integridade da cortical mandibular, classificando: C1 - cortical normal, C2 - cortical com sinais de reabsorção na superfície endosteal e C3 - cortical com erosões acentuadas. A relação entre presença de ateroma e classificação da cortical foi analisada por meio do teste do qui-quadrado e de um modelo de regressão logística binomial. No total, 272 radiografias panorâmicas apresentaram calcificações (1,4% da população estudada). Foram identificadas 422 radiografias compatíveis com ateromas calcificados na carótida, sendo 122 unilaterais (63 no lado direito e 59 no lado esquerdo) e 150 bilaterais. Houve diferença significativa no percentual de pacientes com erosão na cortical no grupo com ateroma (p<0,001). Não houve diferença estatisticamente significativa entre os lados e entre os tipos (uni ou bilateral) no grupo com presença de ateromas (p>0,05). Em um modelo de regressão logística binomial, verificou-se que indivíduos com presença de erosão na cortical tinham duas vezes mais chance de apresentar ateroma calcificado na carótida em comparação aos indivíduos sem essa condição. Demonstrou-se haver uma relação entre presença de ateroma calcificado na carótida e erosões na cortical inferior da mandíbula. Assim, a radiografia panorâmica pode ser uma ferramenta auxiliar na identificação de ateromas e osteoporose, duas condições crônicas com significativo impacto na saúde dos pacientes. A prevalência de ateromas encontrada foi semelhante à reportada na literatura.