Efeitos da estimulação das funções executivas no desempenho escolar

Abstract

Uma quantidade substancial de estudos relatou uma forte relação entre funções executivas e desempenho escolar. Consequentemente, existe grande interesse em melhorar as funções executivas em alunos com dificuldades de aprendizagem. Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi obter evidências empíricas do efeito da estimulação das funções executivas de alunos com dificuldades de aprendizagem no seu desempenho escolar. A evidência foi obtida pela aplicação de testes que medem funções executivas e desempenho acadêmico antes e depois da intervenção. Os oito subtestes que medem funções executivas administrados fazem parte da bateria Escalas de Inteligência e Desenvolvimento 2 (IDS-2). Os três testes administrados que medem o desempenho acadêmico fazem parte do Teste de Desempenho Escolar (TDE II) e medem as seguintes habilidades escolares: Aritmética, Escrita e Leitura. Além destes 11 subtestes, também o Teste da Pirâmide Colorida de Pfister para Crianças e Adolescentes foi administrado para examinar a relação das funções afetivas e instintivas com os resultados dos testes que medem as funções executivas e o desempenho escolar. Participaram do estudo 17 alunos com dificuldades de aprendizagem de uma escola pública de ensino fundamental anos finais do Distrito Federal. Os estudantes tinham idade entre 11 e 16 anos (M=13,2) e eram predominantemente do sexo masculino (64,7%). A intervenção realizada teve como base o programa CENA (Capacitação de Educadores sobre Neuropsicologia da Aprendizagem) em que o professor estimula as funções executivas dos alunos. A intervenção ocorreu num período de dois meses e consistiu em quatro sessões com duração aproximada de quatro horas. Foram selecionados 13 professores para realizar a intervenção. A idade dos professores treinados para ministrar a intervenção foi de 45,2 anos, sendo 61,5% do sexo feminino. A análise da confiabilidade dos escores dos testes aplicados resultou em coeficientes de confiabilidade α de Cronbach e λ2 de Guttman de pelo menos 0,80 no grupo intervenção com exceção de Reconhecer Figura e Reconhecer Figura Rotacionada, dois subtestes do IDS-2 que mostraram coeficientes de confiabilidade mais baixos de 0,63 e 0,62 respectivamente. Os resultados revelaram que o escore total das funções executivas aumentou significativamente (p < 0,01; tamanho do efeito d de Cohen = 0,30) após a intervenção. Dos três componentes das funções executivas (flexibilidade cognitiva, inibição e memória de trabalho) apenas a flexibilidade cognitiva aumentou significativamente após a intervenção (p < 0,01; tamanho do efeito d de Cohen = 0,25). Os principais resultados deste estudo indicaram que os escores de desempenho acadêmico aumentaram significativamente após a intervenção, tanto em relação ao escore total (p < 0,01; tamanho do efeito d de Cohen = 0,20), quanto em relação às pontuações em três habilidades escolares individualmente. Das três habilidades escolares o efeito mais forte foi obtido para Aritmética (p < 0,01; tamanho do efeito d de Cohen = 0,29). Os resultados deste estudo fornecem evidências empíricas da eficácia da estimulação das funções executivas de alunos com dificuldades de aprendizagem e enfatizam a importância de estimular as funções executivas dos alunos com dificuldades de aprendizagem, inclusive dos alunos mais velhos do ensino fundamental II. Considerando o número limitado de participantes do presente estudo e a ausência de grupo controle, sugerimos replicar o estudo com uma amostra maior e um grupo controle.